Nos anos sessenta, na Faculdade de Medicina
da UFC, havia uma aluna de sofrível desempenho em uma determinada cadeira
básica, que servia de pré-requisito para outras do ciclo profissional, sendo
sucessivamente reprovada, por um professor, conhecido por sua exigência.
Com o afastamento desse docente para cursar
doutorado fora, a aluna, em questão, conseguiu passar na matéria e avançar na
grade curricular, chegando, naturalmente, a se formar.
O Prof. José Carlos da Costa Ribeiro,
profundo conhecedor do corpo discente da Faculdade de Medicina, havia
prognosticado que, caso ela viesse a concluir o curso, uma condição possível
porque não se aplicava o jubilamento dos alunos em grave atraso, contornando o
obstáculo de difícil transposição, seria uma médica limitada, sem
reconhecimento técnico ou material.
Depois da formatura, a tal doutora montou
uma inusitada clínica de farta produção angelical, a despeito de infringir à
lei brasileira e de descumprir o Juramento de Hipócrates. Na ilegalidade, a sua
prática clandestina sempre teve uma forte demanda, vicejando sem efetiva
concorrência.
Em um encontro informal de velhos
professores da instituição, um dos colegas provocou:
– Viu só, Zé Carlos. Aquela doutora que você
profetizou que, caso ela terminasse o curso, seria uma médica muito limitada,
deu-se muito bem na vida. Está é rica, hoje. Ela venceu na vida, por cima de
pau e de pedra.
A resposta do Prof. José Carlos veio curta e
a galope:
– Muito mais de pau do que de pedra – pondo um ponto final na conversa e colhendo uma sonora
gargalhada geral do grupo de docentes.
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Presidente da Sobrames - Ceará
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de
médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.57-8.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Fábrica de anjos. In: SOBRAMES –
CEARÁ. Lapso temporal. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2018. 352p.
p.237.
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