Por Eleazar de Castro Ribeiro (*)
Hoje, 8 de maio, faz 74 anos do final da II Guerra Mundial na Europa
Central. Ao final dela, sob as cinzas do Holocausto que se espalharam pelo ar,
a Europa contabilizava seus enormes contingentes de mortos e mais 6 milhões de
judeus sacrificados nos campos de concentração nazistas.
A II Guerra foi uma extrema contradição com os novos tempos vividos
pelos europeus nos séculos XIX e XX. Havia um período de exuberante cultura cosmopolita
e de florescimento das artes, como resultado do movimento iluminista. A
Revolução Industrial trazia esperança de aumento da riqueza mundial e
incremento da qualidade de vida.
O sociólogo Norbert Elias, no seu livro "Os Alemães",
pergunta: como o Holocausto pôde acontecer num país celebrado como a Grécia do
século 19, lugar do nascimento de mentes privilegiadas como Beethoven, Bach,
Nietzsche, Thomas Mann, Goethe, Einstein, Hanna Arendt e Karl Marx, dentre
outros símbolos culturais? Como admitir uma barbárie tamanha num país
civilizado como a Alemanha?".
Ele mesmo conclui que processos civilizadores e descivilizadores podem
ocorrer simultaneamente em determinadas sociedades, que podem alcançar um
estágio admirável, mas ao mesmo tempo serem seduzidas por forças que as fazem
viver como "bárbaros tardios". Especialmente quando essas
forças são exploradas por discursos radicais e cheios de ressentimentos, como
os de Hitler, que se sentiu traído com a derrota da Alemanha na I Guerra
Mundial.
Isso significa que todos nós - mesmo com educação intelectualmente
sofisticada - estamos sujeitos à tentação do radicalismo e da violência do
maniqueísmo ideológico, que é uma herança da II Guerra. Até então, as guerras
tinham um pano de fundo muito mais geopolítico e territorial. Hitler foi um dos
primeiros ditadores mundiais a se utilizar da exclusão ideológica. É inevitável
pensar no atual contexto internacional, perigosamente parecido com o da II
Guerra. Por isso, é imperativo reconhecer que a educação para a paz é uma
necessidade superior aos partidos e ideologias. Que tenhamos sempre em mente a
expressão que está escrita nos portais dos museus europeus que tratam do Holocausto:
lembrar para não repetir!
(*) Doutor em Educação e membro do Centro Cultural do Ceará
(CCC)
Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/05/19. Opinião, p.16
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