terça-feira, 29 de outubro de 2019

JUROS NEGATIVOS NO MUNDO


Lauro Chaves Neto (*)
Existe um olhar de espanto e uma busca de explicações para compreender como em muitos países existe, hoje, uma taxa de juros de longo prazo negativa e como isso poderia desafiar a lógica dos investimentos.
Esse é o cenário, por exemplo, de alguns países europeus, EUA e Japão. Na Alemanha, quem emprestar recursos ao governo tende a sair com prejuízo em aplicações de dois até 30 anos. Nos EUA, os títulos de 30 anos, têm um rendimento de 2% ao ano enquanto os de curto prazo rendem 1,5%, também gerando prejuízos ao investidor.
As previsões de que o mundo corre o risco de uma recessão, pode explicar esse fenômeno que parece irreal para os brasileiros. Esse temor foi alimentado, recentemente, tanto pela guerra comercial entre EUA e China como pelo Brexit inglês, sem esquecer as turbulências argentinas.
Os investidores, percebendo o risco crescente, passam a buscar ativos com mais segurança, como são considerados títulos de dívidas de países desenvolvidos que seguem a lei da oferta e da demanda: quanto mais gente quer comprar, mais o valor dele sobe. Lembrando que o valor de um título financeiro é inversamente proporcional à taxa de juros, que assim cairá junto com o rendimento da aplicação.
Quando o mundo mergulhou na recessão, em 2008, os bancos centrais reduziram, seguidamente, as taxas de juros tentando estimular empréstimos que fossem direcionados para o consumo e os investimentos.
Hoje, os investidores possuem mais de US$ 15 trilhões aplicados em investimentos com taxas de juros negativas. Na tentativa de reativar a economia, os bancos centrais cortam sucessivamente os juros e, no limite, a taxa de juros negativa funciona como uma punição para as instituições financeiras que fiquem com o dinheiro parado.
Com a nova provável recessão, os economistas deverão ser mais criativos em elaborar estratégias para fugir dessa "armadilha da liquidez", uma vez que novas reduções nos juros, quando eles já são negativos ou próximos de zero, seriam inócuas no estímulo à atividade econômica, nesse momento deve haver uma maior coordenação e ativismo com as políticas fiscal e cambial.
(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte: O Povo, de 16/09/19. Opinião. p.20.

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