terça-feira, 8 de outubro de 2019

O SARAMPO ESTÁ DE VOLTA


Por Robério Dias Leite (*)
Em fevereiro de 2018, teve início, a atual epidemia de sarampo no Brasil, algo sem precedentes nos últimos 20 anos, com mais de 12 mil casos e 15 mortes. Como isso está acontecendo num país que montou um dos programas de imunizações mais bem-sucedidos em todo o mundo? A resposta não está fora dos nossos muros. A verdade é que não estamos fazendo o "dever de casa", e a cobertura vacinal se encontra muito aquém do necessário para impedir o risco do ressurgimento de doenças outrora controladas.
Paradoxalmente, estamos andando para trás num contexto em que os desafios se multiplicaram para o controle do sarampo, uma metáfora do que está ocorrendo com nosso processo civilizatório. A globalização e os avanços tecnológicos possibilitaram o deslocamento de pessoas, facilitando a transmissão das doenças contagiosas. É preciso estar permanentemente preparado. Não é aceitável que a vacina não esteja disponível no posto de saúde; que o sistema de saúde continue funcionando em horários inadequados; que não tenhamos incorporado tecnologias digitais que facilitem o conhecimento real das coberturas vacinais; e que sejamos bombardeados de maneira crescente por fake news criminosas sobre vacinas, as quais podem deixar nossas crianças desprotegidas, levando-as ao sofrimento por doenças e até a morte, quando os pais decidem não vacinar os filhos por medo infundado. Entre 2013-2015 enfrentamos um grande surto de sarampo no Ceará e, à custa de muito esforço, recuperamos as coberturas vacinais e conseguimos controlar a situação. Foi um alerta para o restante do País que, infelizmente, não foi escutado. Que o exemplo de Rodolfo Teófilo, nosso herói solitário no combate à varíola, seja inspiração para todos os cearenses e que uma boa cobertura vacinal não permita que a inevitável importação de casos de sarampo não se transforme num novo surto. Que nem mais uma criança cearense perca a visão por causa do sarampo, como ocorreu com nosso inesquecível Patativa do Assaré na sua infância. 
(*) Médico. Infectologista pediátrico do Hospital São José de Doenças Infecciosas e professor da Faculdade de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/09/2019. Opinião. p.20.

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