A ideia da conversão do Centro de Eventos do Ceará para
centralizar os atendimentos em massa a pacientes possivelmente infectados ou
com suspeição de infeção por coronavírus é inteiramente descabida.
Essa edificação não conta com infraestrutura para esse propósito
e o tempo e o custo para fazer as adequações, convertendo o dito Centro de
Eventos em uma megaestrutura de atendimento médico, serão inexequíveis. Talvez
fique pronta quando o momento mais crítico da pandemia tiver, com a graça de
Deus, passado.
Ademais, ao lado dos elevados estipêndios com a suposta
adequação, há de se pensar nos gastos de reversão do empreendimento ao seu uso
original, como equipamento cultural e de negócios, que, inclusive, poderá sofrer
avarias durante o seu emprego em prol da saúde.
A centralização e concentração de serviços não é oportuna ou
producente. O que se requer mais será, de forma descentralizada, mobilizar os
equipamentos de saúde disponíveis, direcionando-os para a premente situação
epidêmica, de modo que habilitar mais leitos em hospitais existentes ou
inativos configura uma estratégia a ser buscada.
Dignas de encômios foram as ações do governo estadual ao
requisitar o Hospital Leonardo da Vinci, concluso mas ainda não inaugurado,
pertencente à iniciativa particular, destinando-o exclusivamente ao cuidado de
pacientes com coronavírus, bem como ao criar anexos, com capacidade de 50
leitos cada, em quatro hospitais públicos de referência estadual.
Há, em Fortaleza, vários hospitais privados desativados, como o
Pronto Socorro dos Acidentados e o dos Arrumadores, e outros tantos filantrópicos
com enfermarias ociosas, a exemplo da Santa Casa e do Hospital Batista, com
leitos não habilitados pelo Sistema Único de Saúde, mercê do subfinanciamento do
SUS, que não repassa aos prestadores de serviços numerários que cubram os
gastos incorridos nos internamentos.
O aproveitamento dessa capacidade hospitalar instalada poderá
agregar cerca de mil leitos para o enfrentamento da pandemia.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor
titular de Saúde Pública-Uece
* Publicado In: O Povo, de 2/04/2020. Opinião. p.12.
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