Por João Álcimo Viana Lima (*)
No período
colonial, o Brasil foi penalizado com a decisão do governo português de não
permitir a instalação do ensino universitário em suas colônias. Com efeito,
seus primeiros cursos superiores somente foram instituídos a partir de 1808,
após a instalação da corte portuguesa em terras brasileiras. A primeira
universidade (a UFRJ) somente se efetivou em 1920, enquanto o regime
universitário foi instituído com a Reforma Francisco Campos, em 1931.
No estado
cearense, em que pese à criação do curso em Direito no limiar do século XX, sua
primeira instituição universitária (a UFC) concretizou-se apenas em 1954, sob a
persistência de Martins Filho. Quanto ao Sertão dos Inhamuns, o advento dos
cursos superiores foi postergado para 1995, quando, não sem enfrentar
resistências, o então reitor da Uece, Paulo Petrola, implantou o Centro de
Educação, Ciências e Tecnologia (Cecitec), em Tauá. À época, Petrola argumentou
que uma microrregião não pode ser condenada à ausência de instituições por
conta de sua posição geográfica e socioeconômica; pelo contrário, são os
investimentos estratégicos que contribuirão para a reversão de um quadro
histórico de isolamento e de ausência de oportunidades.
Recentemente,
deflagrou-se uma grande polêmica em decorrência do anúncio de previsões
orçamentárias, por parte do atual relator do orçamento da União, deputado
Domingos Neto, para a criação, em Tauá, de um campus da UFC (abrigando cursos
da área de saúde) e do curso de Engenharia Civil, através do IFCE.
A despeito da
portaria ministerial de abril de 2018, que suspendeu por cinco anos a
autorização de novos cursos de Medicina, o que mais me entristece é a visão
colonialista que concebe a universidade de forma elitizada, principalmente
quando se tratam dos cursos que dão acesso a profissões historicamente mais
valorizadas.
Longe de mim de
defender uma política expansionista sem critérios qualitativos. Mas, é
lamentável que no ano em que a universidade brasileira completa um século de
existência, a mentalidade colonial ainda esteja a obstaculizar a democratização
do acesso ao ensino superior.
(*) Professor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/3/2020.
Opinião. p.16.
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