Por Fernando
Barroso (*)
Neste cenário de pandemia pela Covid-19,
uma das grandes preocupações da comunidade médica são os pacientes portadores
de outras patologias, tais como câncer e alterações autoimunes, tanto com a
continuidade dos tratamentos essenciais como com as orientações necessárias
para possíveis complicações, que ocorrem naturalmente nesses casos,
especialmente na população mais vulnerável que depende do Sistema Único de
Saúde (SUS).
Muitas ações foram tomadas no sentido de
minimizar estes prejuízos, como a prorrogação da entrega de medicamentos por
noventa dias e a possibilidade de legalmente podermos orientar os pacientes de
forma não presencial, considerando todos os preceitos da razoabilidade e da
ética.
Especificamente na onco-hematologia e em
transplante de medula óssea, área em que atuo há quase trinta anos, traçamos um
planejamento no Hospital Universitário Walter Cantídio no sentido de a partir
de uma responsável triagem atendermos a todos que precisam e não podem adiar
seus tratamentos, tanto os que estão em ambulatório, como em internações.
Com relação aos transplantes de medula,
a orientação da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e
sociedades europeia e dos Estados Unidos é só realizarmos transplantes em
caráter de urgência, o que correspondem a um percentual significativo dos
casos. Uma observação importante: tanto doadores como pacientes, mesmo
assintomáticos, necessitam de testagem prévia negativa para Sars-CoV-2 para
seguirem com o procedimento.
Fui surpreendido, positivamente, nos
últimos dias, com o excelente atendimento que estamos prestando a esses
pacientes. Um envolvimento de todos que participam do processo, inúmeras
reuniões, sempre com o intuito de termos um algoritmo o mais adequado e seguro
para pacientes e profissionais.
A surpresa é porque já lidamos com inúmeras
dificuldades, inerentes ao processo, sempre nos deparamos com o trinômio:
câncer, pobreza e acesso, e agora acrescenta-se um novo elemento que é a
infeção pelo coronavírus.
Enfim, quero de público agradecer a
todos os profissionais da saúde que não estão medindo esforços, oferecendo um
atendimento de excelência, sem perder a esperança que dias melhores virão e que
estamos apenas escrevendo mais um importante capítulo da história da
humanidade.
(*) Professor da UFC e chefe da Hematologia e Transplante de Medula Óssea do
Hospital Universitário Walter Cantídio.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/4/2020. Opinião.
p.15.
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