Quarentena. S. f. 1. Período de 40 dias. 2. Espaço de tempo
(originariamente 40 dias) durante o qual os passageiros procedentes de países
onde há doenças contagiosas graves são obrigados à incomunicabilidade a bordo
dos navios ou em um lazareto. 3. Porção, ou número, de quarenta coisas. 4.
Bras. Abstinência sexual.
Dicionário Aurélio Buarque de Holanda
Em tempos de pandemia, quarentena, isolamento, distanciamento
social e lockdown estão no nosso dia a dia como armas para
conter a rápida propagação do agente causal da Covid-19, o vírus Sars-Cov-2 (coronavírus).
Entretanto, o termo quarentena, por ser o mais conhecido, é usado também como sinônimo de distanciamento
social.
Segundo o médico infectologista Stefan Cunha Ujvari, autor do livro “A História e suas epidemias”, a quarentena surgiu na Idade Média, durante uma das
epidemias da peste bubônica (peste negra).
A Sereníssima República de Veneza, histórica cidade
do comércio e das artes, situada na Península Itálica, rota de portos
comerciais, foi atingida pela peste negra em inúmeras epidemias, entre 1361 e
1528. Diante da enorme mortalidade e do
grande dano à economia causados pela peste, os governantes determinaram que
todas as embarcações que chegassem à cidade teriam que ficar afastadas, para
que as pessoas que tivessem doentes não desembarcassem.
Os órgãos da República se reuniram e um membro
do clero decidiu quantos dias seriam. Como eles achavam que a peste era um
castigo divino, o clérigo usou várias passagens bíblicas que tinham 40 dias, 40
anos e estipulou que seriam 40 dias. Daí surgiu a “quarentena”. Portanto, a quarentena é um isolamento profilático, preventivo.
Em princípio, quando uma pessoa é colocada em quarentena, ela está sadia e sem sintomas da doença, apesar de ter tido contato com
um doente ou permanecido em local de surto da doença. A pessoa é colocada em
reclusão, afastada do restante da população, como medida de cautela até que
seja certificada a integridade de sua saúde.
A quarentena pode ser individual (para uma pessoa
que volta de viagem internacional ou para contatos domiciliares de caso
suspeito ou confirmado de coronavírus) ou coletiva (um navio, um bairro ou uma
cidade).
O isolamento é diferente da quarentena pois é uma medida aplicada à pessoa doente, para tratamento e restabelecimento de sua
saúde, evitando a contaminação de outras pessoas saudáveis de seu convívio. Pode
ser em domicílio ou em ambiente hospitalar.
O distanciamento social é a diminuição do
relacionamento entre os moradores de uma localidade, e tem como finalidade
frear a velocidade de transmissão do vírus. É fundamental para que as pessoas
infectadas, assintomáticas ou oligossintomáticas não espalhem o vírus,
contaminando pessoas sadias.
No caso da Covid-19, o distanciamento social pode ser ampliado
ou seletivo. No distanciamento
social ampliado, há o fechamento de escolas, lojas, mercados públicos etc. O trabalho em casa é estimulado, mas os
serviços essenciais são mantidos. No distanciamento social seletivo, somente os grupos de maior risco como: idosos, diabéticos, hipertensos,
imunodeprimidos e portadores de outras co-morbidades ficam isolados.
Quando as medidas de distanciamento
social, isolamento e
quarentena são insuficientes,
pode ser necessário o bloqueio total (lockdown).
No Brasil está sendo aplicado, em muitas cidades, o distanciamento social ampliado, comumente chamado
de quarentena. Vemos em algumas cidades e até em estados o lockdown.
Ao menos 1,5 bilhão
de pessoas no mundo estão sendo afetadas pelas ações de combate ao coronavírus.
Nesta pandemia, está ocorrendo uma quarentena global em centenas de
países, ao mesmo tempo. Isso é inédito.
No início desta “quarentena”, as pessoas foram aos poucos se
adaptando a uma nova rotina. Muitas encontraram um ritmo, mas outras sentiram
tédio e até depressão.
A pergunta que todos fazemos é: o que fazer nessa quarentena?
O mais importante é pensar que tudo vai passar e que o melhor a fazer é
aproveitar esse momento para repensar valores e modo de vida. Aqui vão algumas
sugestões:
Colocar a casa em ordem preenche o tempo e dá satisfação.
Arrumar armários, gavetas e separar roupas e objetos para doar, estimula
a solidariedade. Limpar tudo com esmero, mudar o local dos móveis, do sofá, da
cama, da escrivaninha, deixa o ambiente mais saudável e bonito.
Rever fotos antigas, trocar as fotos dos porta-retratos, organizar
arquivos de fotos no computador nos faz recordar e reviver.
Arrumar estantes de livros. Separar
um horário para ler aqueles que comprou e nunca leu, além de reler outros com
novo olhar, nos fará mais sábios.
Assistir aos filmes e seriados que ficaram na lista e que, por falta de
tempo, não foram vistos, nos dará alegria e prazer.
Curtir os familiares presencialmente, ou por chamada de vídeos, é sempre
divertido e estreita laços afetivos.
Nessa pandemia, tem pessoas em piores situações que a nossa. Procurar
ajudá-las torna-se uma obrigação. Por isso, é preciso ser generoso com os mais
vulneráveis.
Ter compaixão com aqueles que perderam seus entes queridos faz bem a
psique humana. Ore, exercite sua fé. A oração fortalece e é um bálsamo para a dor.
Cozinhar é um desafio divertido e prazeroso. Para quem nunca se
aventurou na cozinha, há vídeos na internet com o passo a passo de como preparar
um bom prato.
Lembre-se: cozinhar é uma arte.
Segundo Friedrich
Nietzsche: “sem música, a vida
seria um erro”. Aproveitemos
para ouvi-la enquanto realizamos tarefas domésticas.
Estudar; não há melhor investimento do que o conhecimento. A internet
oferece muitos cursos gratuitos nesse período de quarentena.
Aprender uma nova língua nos liberta.
Reciclar objetos, que os franceses chamam de bricolagem, é divertido. A natureza agradece. Montar um escritório em
casa, home office, é prático e lucrativo para algumas atividades. Visitar os
sites dos museus, deliciando-nos com obras de arte, nos torna mais cultos. Cultivar
plantas, mesmo que sejam em uma varanda. Voltaire termina seu livro “Cândido ou o Otimista”, com a seguinte frase: “é preciso cultivar nosso jardim”.
Meditar faz bem à mente. Exercitar-se faz bem ao corpo e à mente.
Pensar e filosofar para sair dessa quarentena
com a certeza de que é preciso transformar a sociedade em que estamos
mergulhados em outra mais solidária, igualitária, criativa e bela. A sociedade da
emancipação humana e do meio ambiente.
Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
Médica
e Historiadora. Membro da Sobrames/CE e da Academia Cearense de Medicina
Fortaleza, 20.5.2020
* Publicado In: Jornal do médico
digital, 1(1): 49-51, maio de 2020. (Revista Médica
Independente do Ceará).
https://www.jornaldomedico.com.br/wp-content/uploads/JMédico-01-Digital-maio-web.pdf
ou https://bit.ly/2XdPaeO
Postado no Blog Ana
Margarida Memórias:
Obrigada, Marcelo, pela postagem!
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