Por Ariosto Holanda (*)
Em
novembro de 1987, como Secretário de Indústria e Comércio do primeiro governo
Tasso, recebi no meu gabinete, profissionais da empresa Natron Engenharia, para
discussão de um plano estratégico de desenvolvimento industrial para o Ceará.
Como exemplo, eles me apresentaram o estudo que fizeram em Minas Gerais na
região do Triângulo Mineiro, quando o governador era Aureliano Chaves. Esse
trabalho, que foi contratado pelo INDI (Instituto de Desenvolvimento
Industrial) de Minas Gerais, me pareceu bem estruturado e adequado ao Ceará. A
sua concepção era clara e lógica. Após a definição da região no Triângulo
Mineiro eles fizeram o levantamento dos seus recursos naturais: minerais,
vegetais e animais, dos produtos que deles seriam obtidos e dos mercados
estadual, nacional e internacional. Feito isso a equipe de engenheiros e economistas
definiram as tecnologias envolvidas nos processos de produção e os locais mais
apropriados para a sua instalação. Uma parte relevante desse estudo foi a que
definiu as ações de apoio, como: educação, infraestrutura de água, energia e
comunicação e os municípios responsáveis. Enfim, era um plano de
desenvolvimento sustentável que integrava todos os municípios daquela região. O
resultado desse trabalho foi publicado em 10 volumes - que se encontra no INDI
- onde o primeiro é o manual do empresário e os demais descrevem os processos
produtivos das indústrias escolhidas como tecnicamente viáveis.
Fomos
então motivados a elaborar um projeto piloto para o Vale do Jaguaribe que
chamamos de Plano de Desenvolvimento Integrado do Vale com a participação de 25
municípios: desde Jaguaribe até Aracati e tendo como agente técnico-financeiro
o BNB/Etene. Essa estratégia mudava a política que predominava e que ainda
predomina, qual seja, a de definir, o local de uma indústria, com base em quem
dá mais incentivos fiscais e financeiros. Pretendíamos também, não procurar a
Sudene, já que com a saída de Celso Furtado, ela passou a aplicar os incentivos
do Finor na capital deixando o interior esperando chuva para praticar uma
agricultura de subsistência. Infelizmente, apesar do BNB (Banco do Nordeste do
Brasil) contar com um quadro técnico de alto nível, e sensível ao projeto, não
encontramos o devido respaldo nas diferentes diretorias que por lá passaram.
Retomo
essa discussão devida à conjuntura atual, principalmente quando vislumbro que,
após essa pandemia da Covid-19, haverá uma explosão de pobres e desempregados.
Aliás é um fenômeno estranho que as estatísticas não mostrem que classe de
pessoas está morrendo. Mas sabemos que são aqueles trabalhadores pobres que
precisam sair do confinamento para buscar o seu sustento e o da família. Por
isso, é preciso pensar num desenvolvimento que contemple o homem e o seu meio,
que tenha o formato de micro e pequenas empresas e que receba o apoio das
instituições de ensino superior e da Fiec (Federação das Indústrias do Estado
do Ceará). A minha esperança para que esse projeto aconteça está na atual
diretoria do BNB, e na liderança empresarial que a Fiec exerce junto à
sociedade. BNB e Fiec juntos podem tornar esse projeto uma realidade.
(*) Professor,
engenheiro e ex-deputado federal.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 6/08/20. p.19.
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