Por Jurandir Gurgel (*)
Um panorama sintético da ciência econômica divide o
PIB em quatro componentes: consumo, investimento, compras governamentais e
exportações líquidas. Assim, qualquer retração tem sua origem na desordem
desses componentes e o aumento dos gastos do governo pode ser uma arma potente
para resolver desequilíbrios a curto prazo, mesmo ao custo de endividamento, o
que é melhor do que esperar o próprio mercado se auto ajustar no médio e longo
prazo. Todavia, é importante o cuidado com aumento do déficit orçamentário
prolongado, principalmente quando os gastos governamentais apresentados
inicialmente como extraordinários para o enfrentamento da crise, tendem a ser
mantidos gerando déficits fiscais persistentes e prejudicando a
sustentabilidade fiscal intertemporal.
Uma saída é o governo por intermédio de suas
autoridades monetárias e fiscais atuarem de forma coordenada com o objetivo de
garantir as condições necessárias a todos agentes econômicos, privados e
públicos, para evitar o colapso do sistema econômico.
Num ambiente de juros baixos, em que não há excesso
de demanda, pressão sobre o nível de preços e pleno emprego, promover a
flexibilização monetária e calibrar a velocidade da moeda no circuito da
economia desaquecida pode ser a azitromicina monetária a conter o avanço da
infecção nos pulmões da economia, e o respirador fiscal expansionista o
instrumento para garantir o tempo necessário ao sistema imunológico do
crescimento econômico debelar o processo infeccioso da crise. É sabido que a
diferença entre o remédio e o veneno é a dose, a parcimônia exige que uma vez
que o paciente Brasil de alta, você não pode manter os protocolos de quando ele
esteve na UTI da recessão econômica.
Por fim, considerando a utilização dos instrumentos
econômicos e sua relação complexa e intrínseca na busca pelo equilíbrio do
sistema econômico, é difícil afirmar quão bem-sucedida será a política
monetária e fiscal para evitar uma profunda recessão. Mas, no desenrolar dos
eventos, há a certeza de que os formuladores de políticas do Banco Central e do
Tesouro não se desvencilharão de olhar através de uma lente keynesiana.
(*) Economista.
Secretário das Finanças de Fortaleza.
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