quinta-feira, 3 de setembro de 2020

FUNDAMENTOS ECONÔMICOS E PANDEMIA

Por Jurandir Gurgel (*)

Um panorama sintético da ciência econômica divide o PIB em quatro componentes: consumo, investimento, compras governamentais e exportações líquidas. Assim, qualquer retração tem sua origem na desordem desses componentes e o aumento dos gastos do governo pode ser uma arma potente para resolver desequilíbrios a curto prazo, mesmo ao custo de endividamento, o que é melhor do que esperar o próprio mercado se auto ajustar no médio e longo prazo. Todavia, é importante o cuidado com aumento do déficit orçamentário prolongado, principalmente quando os gastos governamentais apresentados inicialmente como extraordinários para o enfrentamento da crise, tendem a ser mantidos gerando déficits fiscais persistentes e prejudicando a sustentabilidade fiscal intertemporal.

Uma saída é o governo por intermédio de suas autoridades monetárias e fiscais atuarem de forma coordenada com o objetivo de garantir as condições necessárias a todos agentes econômicos, privados e públicos, para evitar o colapso do sistema econômico.

Num ambiente de juros baixos, em que não há excesso de demanda, pressão sobre o nível de preços e pleno emprego, promover a flexibilização monetária e calibrar a velocidade da moeda no circuito da economia desaquecida pode ser a azitromicina monetária a conter o avanço da infecção nos pulmões da economia, e o respirador fiscal expansionista o instrumento para garantir o tempo necessário ao sistema imunológico do crescimento econômico debelar o processo infeccioso da crise. É sabido que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose, a parcimônia exige que uma vez que o paciente Brasil de alta, você não pode manter os protocolos de quando ele esteve na UTI da recessão econômica.

Por fim, considerando a utilização dos instrumentos econômicos e sua relação complexa e intrínseca na busca pelo equilíbrio do sistema econômico, é difícil afirmar quão bem-sucedida será a política monetária e fiscal para evitar uma profunda recessão. Mas, no desenrolar dos eventos, há a certeza de que os formuladores de políticas do Banco Central e do Tesouro não se desvencilharão de olhar através de uma lente keynesiana.

(*) Economista. Secretário das Finanças de Fortaleza.

Fonte: O Povo, de 10/7/20. Opinião. p.16.

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