Por Prof. Dr. Marcony Silva Cunha (*)
Segundo
a disponibilidade dos dados para a epidemia de Covid-19 no estado do Ceará, o
município de Fortaleza, como é sabido, é o primeiro em número de óbitos, tanto
em valores absolutos quanto em valores relativos à incidência por habitante; em
segundo lugar vem Sobral, maior município do interior do estado em população.
Fortaleza e Sobral exibem taxas de mortalidade de 14,1 e 14,0 por 10 mil
habitantes, respectivamente; em valores absolutos, Fortaleza tem quase 13 vezes
mais óbitos que Sobral e, também, uma população perto de 13 vezes maior.
Como
em todos os lugares, os municípios mais populosos, ou densamente povoados,
sofreram mais precocemente os efeitos da pandemia. No Ceará, o caminho do novo
coronavírus foi praticamente esse, começou na capital e região metropolitana e
rapidamente se espalhou para o restante do Estado, atingindo os principais
municípios.
Por
outro lado, vale ressaltar que, durante a evolução da doença, os municípios do
interior onde há um ou mais campi universitários instalados, estes possuíram em
algum momento a maior parte dos casos e óbitos pelo novo coronavírus na macro
ou microrregião onde estão inseridos. Particularmente, os sete municípios onde
a Universidade Estadual do Ceará - UECE tem campus institucional, a saber,
Quixadá e Tauá (macrorregião do Sertão Central), Crateús (15ª região de saúde
de Sobral), Itapipoca (6ª região de saúde de Fortaleza), Iguatu e Mombaça
(macrorregião do Cariri) e Limoeiro do Norte (macrorregião Litoral
Leste/Jaguaribe) tiveram praticamente a primazia de casos e óbitos nos
primeiros meses da pandemia, tanto em valores absolutos quanto em relativos.
É
tentador se querer correlacionar os casos e óbitos à efervescência das “cidades
universitárias”, por assim dizer, mas, não por coincidência, estas também são
as maiores em habitantes e, por isso mesmo, é provável que tenham sido
escolhidas para serem sedes de um ou mais campi universitários. Exemplo disso é
Quixadá, o município mais populoso da macrorregião do Sertão Central, que
possui, além de um campus da UECE, um campus avançado da Universidade Federal
do Ceará (UFC), um do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE) e mais alguns campi de universidades particulares. Evidentemente,
um município possuir universidades não implica que este irá ter mais (ou menos)
casos de Covid-19, mas sim o fato de serem mais populosos, terem maior
estrutura física para atender sua população local e servirem de sede ou polo
referencial para municípios menores, que buscam seus serviços públicos, como
bancos, hospitais etc.
O
mesmo se pode dizer de Sobral, o maior município e o mais estruturado da região
Norte do estado, com várias Instituições de Ensino Superior (IES) distribuídas
entre universidades, centros universitários e faculdades e que recebe
estudantes de dezenas de localidades. Pertencente à macrorregião de Sobral, na
décima quinta região de saúde com onze municípios, Crateús possui um campus
institucional da UECE e lidera, desde o início da pandemia, em número de casos
e óbitos por Covid-19, em valores absolutos e relativos.
Não
por acaso, no outro extremo do estado, na macrorregião do Cariri, Crato,
Juazeiro do Norte e Barbalha, que também possuem várias IES, figuram entre os
municípios mais afetados da macrorregião do Cariri e, juntos, possuem uma
população estimada em 467 mil habitantes. Na macrorregião, entretanto, Mombaça
e Iguatu, municípios com unidades acadêmicas da UECE, lideravam em taxa
relativa de óbitos por habitante até o fim de junho. Atualmente, o município de
Orós tem a maior taxa relativa de óbitos, 50% a mais que Mombaça e o dobro de
Iguatu. Em números absolutos, Juazeiro do Norte tem, de longe, o maior número
de óbitos, seguido por Crato, Iguatu, Barbalha e Mombaça.
Completando
o quadro dos municípios com campus da UECE, temos Limoeiro do Norte, na
macrorregião do Litoral Leste/Jaguaribe. Neste caso, a primazia de casos e
óbitos não foi de uma “cidade universitária” da região, mas do município de
Aracati, um município litorâneo bastante frequentado por turistas de dentro e
fora do estado, principalmente em épocas festivas como o carnaval. A cidade de
Limoeiro vinha logo em seguida, com o segundo maior número de óbitos na região.
Atualmente, Aracati está em segundo lugar no número total de óbitos, superada
por Russas, com Limoeiro em terceiro lugar; em valores relativos, Aracati é a
quarta cidade e Limoeiro do Norte, a sexta.
Assim,
pode-se dizer que, nesse momento de diminuição ou arrefecimento de casos e
óbitos de Covid-19 no estado do Ceará, depois do epicentro de casos e óbitos,
Fortaleza, a situação no interior se agravou por meio de seus principais
municípios, incluindo-se o litoral, que se tornaram epicentros para os outros
municípios de suas respectivas regiões. Alguns desses, por sua vez, acabaram se
tonando os novos epicentros na região com maior número relativo, ou até
absoluto, de casos e óbitos por Covid-19.
Importante
mencionar que o arrefecimento de casos não significa que se está livre do vírus
nem que ele irá sumir gradativa e espontaneamente, mas que se pode atingir,
eventualmente, um nível residual mínimo de casos e óbitos. Isto implica que, a
qualquer momento, pode-se ter um novo aumento de casos e óbitos se não se
respeitar o distanciamento social e as regras de higiene para o coronavírus.
(*) Professor Titular do Curso de Física da UECE. Membro do Grupo de Trabalho para o
enfrentamento à pandemia do coronavírus no âmbito da Fundação Universidade
Estadual do Ceará - FUNECE
** Publicado In: Jornal do médico
digital, 1(4): 66-69, agosto de 2020. (Revista Médica
Independente do Ceará).
Nenhum comentário:
Postar um comentário