A revista The Lancet publicou em 4/9/2020 um trabalho com os resultados preliminares de um estudo com uma vacina testada contra o novo coronavírus.
Denominada
Sputnik V, o imunizante está sendo desenvolvido pelo Instituto Gamaleya, sob o
patrocínio da Rússia, cujo governo promete iniciar em outubro vindouro a
vacinação dos seus cidadãos.
A
pesquisa envolveu a testagem em 76 sujeitos, acompanhados durante 42 dias,
sendo metade para aferir a segurança da vacina e metade para verificar a
eficácia vacinal.
O
estudo anunciou que a produção de anticorpos no plasma foi maior nas amostras
dos inoculados quando comparada com a de pessoas infectadas, garantindo assim a
eficácia da vacina. Para eles, a segurança foi atestada porque "não houve
resultados adversos" decorrentes da Sputnik V nas pessoas testadas.
Os
resultados foram vistos de forma animadora por governantes e cidadãos em geral,
mas despertaram ceticismo em cientistas e epidemiologistas pela celeridade na
condução da investigação e por ser ainda um estudo de fase II.
A
amostra estudada foi de pequeno tamanho e também padeceu de viés de seleção
diante da sua predominância de jovens, com muitos militares entre os recrutados
do estudo.
A
Sputnik V não foi isenta de efeitos colaterais, pois entre os testados foram relatados
febre alta, cefaleia, adinamia etc.
Efeitos
adversos graves são, comumente, eventos de rara incidência, sendo baixa a sua
probabilidade de ocorrer em amostras pequenas e, amiúde, quando existentes,
somente são identificados em estudos de fase III.
Enfim,
é preciso cautela em se preconizar o uso da dita vacina russa contra a Covid-19
antes dela ser validada em um protocolo de fase III.
Marcelo Gurgel Carlos
da Silva
Professor universitário e médico
* Publicado In: O Povo, de 20/09/2020.
Opinião. p.26.
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