domingo, 18 de outubro de 2020

Apreciação Crítica da Obra The Doctor de Luke Fildes


Por Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg (*)

Descrição Técnica

Autor -  Samuel Luke Fildes (1843-1927)

Título - The Doctor (O Doutor)

Data – 1891

Técnica – óleo sobre tela

Dimensões – 166 cm × 242 cm

Localização Tate Gallery – Londres

Apreciação Crítica

Samuel Luke Fildes, pintor e ilustrador britânico, nasceu em Liverpool, em 3/10/1843, e morreu, em 28/02/1927, em Londres, com 83 anos. Fildes estudou na Warrington School of Arts e no Royal College of Art. Neto da ativista política Mary Fildes, compartilhava a preocupação de sua avó com os desvalidos. Acreditava que, através de suas ilustrações, poderia mudar a opinião pública em temas como pobreza e injustiça.

O famoso escritor Charles Dickens (1812-1870), impressionado com a arte de Fildes, pediu-lhe para ilustrar seu romance “The Mystery of Edwin Drood”. Talentoso, Fildes viu suas  ilustrações se popularizarem, como a que publicou um dia após a morte de Charles Dickens, representando a cadeira vazia do famoso escritor e que inspirou Vincent van Gogh em seu quadro The Yellow Chair (A cadeira Amarela).

Fildes perdeu seu primeiro filho, Philip, acometido de febre tifóide, no Natal de 1877. O desvelo do médico que o assistiu deixou em sua memória uma imagem de devoção profissional que inspirou, em 1891, o quadro “The Doctor”, ora em pauta.

Esta tela foi pintada por encomenda do industrial Henry Tate (1819-1899). Nela, provavelmente, Samuel retrata seu próprio drama pessoal e homenageia o Dr. Murray que assistiu, impotente, seu filho no leito de morte.

No centro do quadro, em primeiro plano, a luz  de um lampião sobre uma mesa ilumina um médico contemplativo e uma criança gravemente enferma, acomodada sobre duas cadeiras. Pela janela da humilde casa, adentram os primeiros raios de sol iluminando o lado esquerdo da face do pai, que repousa a mão nas costas de sua esposa para apoiá-la e confortá-la no momento dramático. A luz ilumina a mãe debruçada em uma mesa revelando seu profundo sofrimento com a grave doença da filha.

Os utensílios sobre os móveis, indicando a preparação de medicamentos, mostram que o médico passou a madrugada ao lado da criança pálida, fraca, largada, gravemente enferma, tentando, em vão, uma terapia eficaz.  É impossível apreciar o quadro sem sentir forte emoção diante da força do olhar do médico sobre a pequena paciente e do olhar do pai, colocando suas esperanças no médico.

Trata-se de uma das representações mais tocantes e icônicas da medicina. Em 1892, um professor de medicina escreveu, no British Medical Journal: “Uma biblioteca de livros feitos em nossa honra não faria o que esta pintura tem feito e fará pela profissão médica, ao tornar os corações de nossos semelhantes aquecidos com confiança e afeto por nós”.

Fortaleza, 25/09/2020

(*) Médica e historiadora. Da Sobrames/CE e da Academia Cearense de Medicina.

Fonte: Publicado originalmente no Jornal do Médico Digital, de 18 a 23 de outubro de 2020. 

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