Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
…Os
neurônios-espelho fornecem um mecanismo neurobiológico aceitável que explica
por que a exposição à violência na mídia leva à violência imitativa. Isto é só
um aviso!…
“O 1% restante das pessoas já tinha um problema sério
bem antes de ver as fotos ou ler as reportagens — e não serão os jornais que
irão resolvê-lo”. Diz a Folha
de São Paulo de 20/03/2019, no artigo intitulado Imprimatum assinado
pelo colunista Hélio Schwartsman.
Não faz bom jornalismo o profissional que acende o
pavio da explosão midiática para realizar-se com furos jornalísticos. No caso
da tragédia em Suzano a pirotecnia continua pipocando. E não me venham
explicar, senhoras e senhores midiáticos, que é necessário ilustrar as
reportagens dantescas sejam elas ao vivo, fotografadas, noticiadas ou pelos
filmezinhos feito pelos Iphone dos colaboradores ad hoc, para demonstrar que não é normal ou edificante o que está
acontecendo ou aconteceu.
Valer-me-ei do antigo conhecimento da “psiconeurociência”, não tão atual para os leigos (1916), a qual, pela
velocidade dos avanços recentes, já pode ser considerada uma senhora idosa,
apesar de que a ciência não tem idade, atualizando-se sempre em constantes
mutações e progressos.
Comecemos pelos primatas e depois pelos seus
derivados mais inteligentes, os homens. Ambos são possuidores de células
nervosas (neurônios) especializadas e que aprendem as funções e atuações das
mais diversas, pela observação de animais da mesma espécie. Se um ser
presenciar um outro ser da mesma espécie fazendo alguma coisa, repete o que o
outro estava realizando.
Aprende assim a descascar amendoim com o semelhante,
dependendo da agilidade do observado. Este é um processo cultural de aperfeiçoamento
que, como tudo na vida, poderá ser considerado positivo ou negativo
Em 1996/8 neurocientistas que examinavam o cérebro
de um macaco depararam-se com um curioso aglomerado de células no córtex
pré-frontal, uma área do cérebro responsável pelo planejamento de movimentos,
localizado no lobo frontal.
Quando um macaco avista outro macaco executando uma
ação, imita-o como se fosse sua imagem refletida num espelho.
O aglomerado de células dispara não apenas quando o
macaco executa uma ação, mas também quando o macaco vê a mesma ação executada
por outra pessoa.
O mesmo ocorre com as pessoas. As células respondem
da mesma maneira. Pouco importa se o macaco estendeu a mão para agarrar uma
banana, ou apenas observou – com inveja – outro macaco ou um humano comendo a
fruta. Como as células refletem as ações que o macaco observa, os
neurocientistas chamam-nas de “neurônios-espelho”.
Experimentos posteriores confirmaram a existência
desses neurônios-espelho, mais aperfeiçoados, em humanos e revelaram outra
surpresa.
Além de espelhar ações, as células excitavam-se (ou
refletiam) no caso de sensações e emoções. “Os neurônios-espelho sugerem que
pretendemos estar no lugar mental de outra pessoa”. Se estamos preparados para internalizar automaticamente os movimentos e
estados mentais dos outros, nossos semelhantes, então o que isso sugere é a
forte influência de filmes violentos, programas de televisão, videogames e
outras cositas, mas…nas nossas emoções e desejos.
Carecemos de ter mais cuidado com o que assistimos.
Caberia ao pessoal da mídia profissional saber o que podem causar e ter mais
cuidado com o que estão apresentando aos seus leitores e espectadores
(fregueses e consumidores, na era do domínio do Mercado, merecem respeito!).
Isso difere muito do que andam afirmando por aí, do
perigo dos videogames…. e outras tantas asneiras.
Os próprios cientistas estudiosos dessas formações
neurológicas citam o escritor Marcel Proust (1871-1922) que, no seu livro “No Caminho de
Swann” dizia: O que censuro
nos jornais é fazer-nos prestar atenção todos os dias a coisas insignificantes,
ao passo que nós lemos, apenas três ou quatro vezes na vida, os livros em que
há coisas essenciais.
Os neurônios-espelho fornecem um mecanismo
neurobiológico aceitável que explica por que a exposição à violência na mídia
leva à violência imitativa. Isto é só um aviso!
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES) e da
Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford
(Grã-Bretanha).
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