sexta-feira, 2 de outubro de 2020

FOLCLORE POLÍTICO XLIV

Abro a coluna com uma historinha do Saci-Pererê

Fraco, mas cheiroso

Nos sertões do Nordeste, caçadores e lenhadores costumam pôr na frincha de uma árvore da mata em que se encontram certa porção de fumo para Santa Clara. A santa, em recompensa, faz com que naquele dia a chuva não lhes estorve o trabalho. Em São Paulo há uma superstição semelhante: - quem sai a caçar, em dia de sexta-feira, tem a obrigação de levar um pedaço de fumo para o Saci-Pererê. De um caipira mentiroso, fértil no relato de inverossímeis proezas venatórias, repete-se que o mesmo contava:

- Uma sexta-feira, eu me esqueci de levar o fumo. Estava pensando nisso, quando o Saci apareceu e me exigiu o tal tributo que lhe era devido. Fiquei atrapalhado, mas resolvi ver se enganava o Saci e o matava.

Disse a ele:

- "Fumo, mesmo, fumo eu não truxe não, mas truxe o cachimbo carregado."

Aí, meti-lhe o cano da espingarda na boca e puxei o gatilho. Quando o tiro falou e eu esperava ver o Saci esperneando e morrendo, ele mexeu com as bochechas, como se estivesse enxaguando a boca com os caroços de chumbo e, cuspindo a carga da espingarda, me disse:

- O fuminho é fraco, mas é até cheiroso...

(Quem conta é Leonardo Mota em Sertão Alegre)

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

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