Por Eloisa Vidal (*)
O
mundo inteiro está discutindo a volta às aulas, desde a educação infantil até o
ensino superior. Não é uma decisão simples, nem fácil. Estamos vivendo uma
pandemia para a qual ainda não temos remédio nem vacina, que contagia a todos,
embora afete as crianças e jovens com menor intensidade de sintomas.
O
retorno às aulas desafia os epidemiologistas uma vez que estudos vêm mostrando
que essa população que tem menor intensidade de sintomas, muitas vezes, até
mesmos assintomáticos, são vetores que transportam o vírus para outros espaços,
entre eles, o espaço doméstico, cujos pais, tios, avós podem se contaminar. E
aí, sim, esta transmissão involuntária pode gerar efeitos colaterais graves e
uma segunda onda de transmissão elevada, demandando, mais uma vez, respostas
urgentes e complexas do sistema de saúde.
Aqui
e alhures, os gestores públicos estão procurando assegurar condições sanitárias
adequadas para que o retorno às aulas se dê agora em setembro, com parte dos
alunos frequentando a escola em dias ou semanas alternados, mesclando momentos
presenciais com ensino remoto etc. Não se sabe ainda as implicações dessas
medidas, embora alguns países que fizeram tentativas dessa natureza, tiveram
que interromper ou suspender aulas e depois voltar. Esse movimento pendular
também é uma incógnita quanto às implicações que têm para o desenvolvimento da
aprendizagem, uma vez que rompe com rotinas importantes e consideradas
necessárias para o êxito do processo de ensino.
No
Ceará o retorno às aulas na educação básica e superior representa cerca de 3
milhões de crianças, jovens e adultos se dirigindo para escolas cinco dias por
semana. Se parcelarmos em 20% por dia, isso ainda representa 600 mil pessoas
que passam a circular, diariamente, em espaços fechados de grande interação e
proximidade. É sobre isso que estamos falando. Quem pode afirmar que existe
segurança sanitária e epidemiológica num contexto desses? Aí vem a próxima
pergunta: - os alunos vão perder o ano escolar? Não necessariamente. A própria
legislação educacional aponta possibilidades para mitigar a situação. Cabe aos
especialistas em educação conceber iniciativas que possam desenvolver o
currículo escolar não no modelo linear de ano letivo, mas em ciclos ou outra
forma, para compensar o tempo da pandemia.
(*) Professora da
Uece. Doutora em Educação.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 10/09/20. p.17.
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