Por Weiber Xavier (*)
Com
o desenvolvimento tecnológico e o avanço da medicina têm-se a possibilidade de
recuperar muitos pacientes graves antes sem chance de sobreviver. No entanto,
muitas vezes têm-se observado a utilização "inadequada" da UTI e o
emprego da tecnologia médica sem o devido questionamento ético. O doente grave
sem possibilidade de melhora ou cura é levado a sofrer uma morte lenta,
dolorosa, tripudiada em decorrência de tratamentos fúteis por meio de medidas
extraordinárias geralmente caras, invasivas e complexas.
O
exagero e a obstinação terapêutica para manter o paciente vivo a qualquer custo
ou distanásia tornou-se, infelizmente, prática em nossas UTIs. Pacientes em
estado terminal experimentam menos estresse e cuidados médicos menos agressivos
se tiverem discussões sobre o fim da vida com seus médicos, de acordo com os
resultados de um estudo do Journal of the American Medical Association.
As
discussões sobre o fim da vida oferecem aos pacientes a oportunidade de definir
seus objetivos e expectativas quanto aos cuidados médicos que desejam receber
perto da morte. Mas essas discussões também significam confrontar as limitações
dos tratamentos médicos e a realidade de que a vida é finita, os quais podem
causar sofrimento psicológico.
O
respeito pela autonomia do paciente (consentimento informado) é fundamental na
assistência de saúde, inclusive em terapia intensiva. Cuidados de UTI quando
clinicamente apropriados são componentes dos serviços de saúde e devem estar
disponíveis para todos. O dever dos provedores de saúde em beneficiar um
paciente específico tem limites quando o faz de forma injusta e compromete a
disponibilidade dos recursos necessários para outros pacientes. Saber como
utilizar a ciência e a tecnologia médica diante dos doentes críticos com
recursos finitos é uma tarefa difícil e eticamente desafiadora. Segundo
Aristóteles em Ética a Nicômano: "É como a medicina, onde é fácil saber
quais são os medicamentos, a cauterização e a cirurgia, mas saber como
administrá-los, a quem e quando, para tornar o paciente saudável, é a tarefa
verdadeiramente difícil de ser médico".
(*) Médico
e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/10/2020. Opinião. p.18.
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