Por Lauro Chaves Neto (*)
O mercado financeiro brasileiro, durante décadas,
propiciou uma assimetria que era uma verdadeira agressão ao princípio básico de
finanças, aquele axioma em que o retorno esperado é proporcional ao risco
assumido. Devido à prática de uma das mais elevadas taxas de juros do planeta,
algumas das aplicações de renda fixa proporcionavam ganhos extraordinários com
reduzidos níveis de riscos.
Foi a festa dos rentistas quando as aplicações
especulativas eram, muitas vezes, mais atrativas que aquelas produtivas,
bastava possuir o capital inicial para multiplicá-lo no mercado financeiro, o
que era mais um fator para agravar a concentração de renda e aumentar a
desigualdade extrema.
O novo cenário de juros reais mínimos, muitas vezes
negativos, começa a refazer a racionalidade na tomada de decisões de
investimentos, assim para se conseguir retornos acima da média, é necessário se
correr riscos na mesma proporção. A taxa livre de risco não deve construir
riqueza e, sim, apenas recompor o poder de compra do capital, mantendo o seu
valor ao longo do tempo. O Brasil está diante da oportunidade de estabelecer
um, quase inédito, ambiente favorável aos investimentos produtivos, em que os
recursos devem trabalhar na economia real e assumir riscos para remunerarem os
investidores e proporcionarem retorno para a sociedade.
O investidor, ao decidir por "tentar"
multiplicar o seu capital, deverá assumir riscos em atividades produtivas como
empresas tradicionais, startups, franquias, venture capital, entre outras. Essa
nova realidade exigirá uma transformação cultural e o crescimento de
oportunidades para o empreendedorismo.
O setor produtivo deve aproveitar essa nova
realidade para ampliar as suas opções de financiamento, com a atração desses
capitais antes aplicados no mercado financeiro, sendo necessário para isso
iniciar um processo de melhoria da governança nas organizações.
A abertura de mercados, a melhoria no ambiente de
negócios e o novo funding para as organizações tendem a fortalecer o tecido
empresarial, incrementar a geração de riqueza e contribuir para a promoção do
desenvolvimento.
(*) Consultor,
professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte:
O Povo,
de 14/9/20. Opinião. p.18.
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