Por Prof. Dr. Pe. Alfonso V. Amarante
Diretor Geral da
Academia Afonsiana de Roma
Antes do V-Day, o dia no qual a vacina contra
o Corona Vírus começou a ser administrada de maneira exponencial na Itália, os
meios de comunicação social, seguido depois pelos outros órgãos de imprensa, já
haviam começado a debater a obrigatoriedade ou não da vacinação como medida
preventiva.
Nos últimos dias, foram veiculadas
informações sobre a eficácia da vacina, mas de difícil assimilação pelos que
não são peritos no assunto. Existem também grupos pequenos, mas muito
barulhentos, que sustentam, sem dados científicos comprovados, que a vacina não
é outra coisa senão um complô orquestrado pela indústria farmacêutica e pelos
governos mundiais para controlar as massas.
Sem querer entrar nesta polêmica estéril,
acredito ser necessário colocar duas simples considerações. Em primeiro lugar,
o mundo está enfrentando uma epidemia de morte e estreitamento de estilos de
vida e, em segundo, observar o que a história nos ensina que somente através da
medicina e das vacinas as doenças têm sido derrotadas. Por que, então, esta
aversão às vacinas em geral e a da Covid-19 em particular? Qual comportamento
moral responsável deve ser assumido?
Vejamos alguns comportamentos religiosos que contribuem para
confundir as ideias sobre um tema assim tão delicado. Os Amish recusam a
modernidade repudiando a utilização de fármacos e das próprias vacinas. Os
seguidores da igreja científica, Christian Science, criada nos Estados
Unidos em 1892, defendem que todas as doenças devem ser curadas apenas com
orações. Posições contrastantes se encontram também nas igrejas protestantes.
Outras negações religiosas contra a vacina
são relativas às substâncias nelas contidas, como a utilização de animais
impuros (para o judaísmo e o islamismo) ou pela presença de células de cultura
que originalmente foram retirados de fetos abortados voluntariamente. Sobre
esta temática remeto ao post “La questione dei vaccini” e à nota da Congregação
para a Doutrina da Fé: “Nota sulla moralità
dell’uso di alcuni vaccini anti Covid-19” (2).
Para nós que cremos, vacinar-se é uma escolha
clara pelo bem comum, uma escolha moral ditada pela responsabilidade que temos
frente às outras pessoas. Para um crente, vacinar-se é um dever humano, em nome
da solidariedade social e cristã, em nome da caridade para consigo mesmo e o
próximo. Em um contexto cultural onde a motivação para a interdependência é
forte, diante de escolhas assim importantes, o individualismo e os estilos de
vida autorreferenciais não devem prevalecer.
Diante de uma crise sanitária não podemos
antepor o bem pessoal ao bem comum. Como crentes somos chamados à vacina para
exercitar livremente a nossa responsabilidade moral em relação às outras
pessoas.
Sobre este tema é totalmente compartilhável a nota da Comissão
Vaticana Covid-19 em colaboração com a Pontifícia Academia pela Vida: “Vacina
para todos. 20 pontos por um mundo mais justo e saudável”. No ponto n. 13 se
afirma: “Sobre a responsabilidade moral de
submeter-se à vacinação (também em base no que foi dito no n. 3) é preciso
reiterar que esta temática implica também uma relação entre saúde particular e
saúde pública, mostrando a estreita interdependência entre ambas. À luz desse
nexo, consideramos importante que se leve em conta que a recusa da vacina pode
se constituir também em um risco para os outros”.
O bem comum é uma escolha moral responsável feita de relações
enquanto forma especial de bem relacional. Sendo o bem constituído pelas
relações entre as pessoas, eis porque se vacinar se torna escolha moral
autenticamente responsável. Diante do Bem comum devemos deixar de lado a lógica
do “eu” para deixar vencer aquela do ”nós” como escolha que nos envia ao único
e sumo Bem.
Notas:
(1) Tradução livre feita pelo Pe. Moésio Pereira de
Souza, do texto: Vaccinarsi: uma scelta morale, de autoria do Prof. Dr.
Pe. Alfonso V. Amarante, Diretor Geral da Academia Afonsiana de Roma, publicado
no dia 5 de janeiro de 2021. Para o texto original cf. https://www.alfonsiana.org/blog/2021/01/05/vaccinarsi-una-scelta-morale/.
(2) Para a versão portuguesa: Nota sobre a moralidade do uso de
algumas vacinas anticovid-19, cf.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20201221_nota-vaccini-anticovid_po.html.
Nota do Blog:
O Pe. Moésio Pereira de Souza é missionário redentorista em Fortaleza e orientador espiritual da Sociedade
Médica São Lucas, entidade que congrega médicos católicos de Fortaleza, fundada
em 1937. Doutor em Teologia Moral, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza,
e integra o Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto do Câncer do Ceará.
Marcelo
Gurgel Carlos da Silva
Editor do Blog
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