segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

INCERTEZA E FUGA DE CAPITAL

Por Lauro Chaves Neto (*)

A melhor forma de conceituar a atual crise e as perspectivas é "a incerteza", sanitária e econômica. Verdade que ambas eram muito maiores quando a pandemia tomou proporções globais há alguns meses. Hoje a maior incerteza econômica se refere ao modo como as economias vão reagir quando os estímulos às empresas e à rede de proteção social forem reduzidos, sanitariamente teremos riscos de sucessivas ondas de contaminação até que a população seja imunizada.

Diante de tamanha incerteza, a fuga de investidores estrangeiros das aplicações de risco, em 2020, deverá ser mais do que o dobro em comparação ao observado em 2019. O saldo deverá ficar negativo em aproximadamente US$25 bilhões contra US$11 bilhões. A atração de investimentos produtivos também experimentará uma grande redução, devendo encerrar o ano com um saldo de aproximadamente US$ 50 bilhões diante dos US$73 bilhões. Quando são consolidados todos os fluxos de capitais internacionais, o Brasil fechará o ano com um saldo positivo de aproximadamente US$11 bilhões, muito inferiores aos US$59 bilhões de 2019.

A desvalorização do Real frente ao dólar até tornou vários ativos brasileiros atraentes para investidores estrangeiros, além disso, inúmeros países injetaram trilhões de dólares em suas economias em políticas para mitigar os efeitos da crise, poderia ter havido um influxo de recursos no Brasil em uma situação típica, sendo o momento de adquirir ações e títulos brasileiros, desembolsando menos Dólares para comprar títulos em Reais.

Grande parte dos analistas tem atribuído esse comportamento ao temor de um descontrole progressivo das contas públicas brasileiras. Para os investidores, existe o risco de uma forte baixa na bolsa brasileira, agravado pela chance de se comprar um ativo hoje e o real se desvalorizar ainda mais, em um cenário macroeconômico de explosão das contas públicas e piora nas expectativas. Por outro lado, as reservas internacionais, a reduzida dívida externa, a política monetária e a taxa de câmbio flutuante influenciam, positivamente, nas expectativas. 

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 9/11/20. Opinião. p.21.

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