Por Lauro Chaves Neto (*)
A melhor forma de conceituar a atual crise e as
perspectivas é "a incerteza", sanitária e econômica. Verdade que
ambas eram muito maiores quando a pandemia tomou proporções globais há alguns
meses. Hoje a maior incerteza econômica se refere ao modo como as economias vão
reagir quando os estímulos às empresas e à rede de proteção social forem
reduzidos, sanitariamente teremos riscos de sucessivas ondas de contaminação
até que a população seja imunizada.
Diante de tamanha incerteza, a fuga de investidores
estrangeiros das aplicações de risco, em 2020, deverá ser mais do que o dobro
em comparação ao observado em 2019. O saldo deverá ficar negativo em
aproximadamente US$25 bilhões contra US$11 bilhões. A atração de investimentos
produtivos também experimentará uma grande redução, devendo encerrar o ano com
um saldo de aproximadamente US$ 50 bilhões diante dos US$73 bilhões. Quando são
consolidados todos os fluxos de capitais internacionais, o Brasil fechará o ano
com um saldo positivo de aproximadamente US$11 bilhões, muito inferiores aos
US$59 bilhões de 2019.
A desvalorização do Real frente ao dólar até tornou
vários ativos brasileiros atraentes para investidores estrangeiros, além disso,
inúmeros países injetaram trilhões de dólares em suas economias em políticas
para mitigar os efeitos da crise, poderia ter havido um influxo de recursos no
Brasil em uma situação típica, sendo o momento de adquirir ações e títulos
brasileiros, desembolsando menos Dólares para comprar títulos em Reais.
Grande parte dos analistas tem atribuído esse
comportamento ao temor de um descontrole progressivo das contas públicas
brasileiras. Para os investidores, existe o risco de uma forte baixa na bolsa
brasileira, agravado pela chance de se comprar um ativo hoje e o real se
desvalorizar ainda mais, em um cenário macroeconômico de explosão das contas
públicas e piora nas expectativas. Por outro lado, as reservas internacionais,
a reduzida dívida externa, a política monetária e a taxa de câmbio flutuante
influenciam, positivamente, nas expectativas.
(*) Consultor,
professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte:
O Povo,
de 9/11/20. Opinião. p.21.
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