sexta-feira, 5 de março de 2021

Crônica: “... olhos, órgãos musicais da alma” ... e outros causos

"... olhos, órgãos musicais da alma"

A pandemia chegou tinindo, pra discatitar. A covid-19 botou pra ver as bandas, quebrar dentro. O Poeta dos Cachorros Jair Morais pega carona no novo coronavírus e vaticina o porvir. Na mente dele, o futuro será "um misto da alta com a baixa tecnologia". De um lado, tudo online; de outro, "tudo ontem".

E lista o que parece agora improvável em termos de ocupação - postos de trabalho. O futuro tá valendo. Vez e voz, pois, terão os profissionais:

- Furador de fila do INPS, soldador de fundo de balde, psicanalista de peru de roda, varredor de entrada de chiqueiro de porco, vendedor de bulim diet, tangedor de minhoca, afinador de sino de igreja de ouvido, contador de causo de visagem em velório, procurador de cabelo em sopa, rezador em bucho de bicho "impanzinado", auxiliar de carregador de defunto em rede, pastorador de cabra em terreno baldio e pelador de bacurim em shopping Center.

Produtos do ano 2050

Para Jair, "o antigo estará no miolo do novo". Lança a tese: "Nada mais primitivo que a moderna tecnologia", e diz que rico ficará quem fabricar...

- Chip de rapadura pra celular, máquina de lavar ânus de cobra de duas cabeças, elixir de batata doce, espanador de cumeeira de igreja, limpador automático de remela, fio dental à base de pentêi de barrão, tesoura de capar mucuim, remédio de piolho à base de mijo de guaxinim industrializado, penico de lata de leite ninho, aparelho detector de morcego, amolador de unha de coçar testículo, enfiador manual de pavio em boca de lamparina e tradutor de cachorro.

"Tranquêdo Neves"

Tem mais de 12 anos a historinha que segue, verídica, ocorrida com a amiga Karla Karenina, então candidata. E bem oportuna, para esses tempos de adiamento de eleições municipais.

Eleger-se vereadora até que nem. Que diabo é 12 mil votos chorados em Fortaleza numa campanha de liso? Piula nenhuma! Difícil era ganhar o voto de dona Mocinha, ama seca da família Braga. Não que ela fosse hostil, deseducada. Mas, os posicionamentos políticos ainda do tempo do Império. Fazê-la votar numa mulher, e de quebra socialista... O pessoal avisou à postulante:

- Vá lá não! Voto ali é duro de arrancar! Se eu fosse tu...

Karlinha não entendia assim. Aquele seria o voto mais gratificante de todos. Sem o sufrágio de dona Mocinha não faria sentido integrar o Legislativo Municipal. A bela, sensível, competente e gentil atriz, escritora e terapeuta telefona pra casa de seu Zé Braga e manda o recado:

- Tô já chegando aí! Quero o voto de tudim, especialmente o de dona Mocinha!

- O meu, o da mulher e o dos meninos eu garanto - respondeu o dono da casa.

No solar dos Braga, "enceguerada" pela aprovação da ama seca das antigas, já velhinha e meio mouca, a candidata esbarra com ela no corredor. Karlinha, discurso pronto pra angariar voto pra si e pra sua candidata à prefeita...

- Quero ser vereadora e careço do seu voto, Mocinha!

- Cuma, sinhá Karla Kerenina?

- Com seu voto, serei vereadora. E pra prefeita, aproveito e peço voto pra...

- Fia, só "havéra" um prefeito pra eu votar! Era Tranquêdo Neves! E assim mesmo tá morto!

Fonte: O POVO, de 26/06/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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