sexta-feira, 12 de março de 2021

Crônica: “A pandemia e um novo triciclo de vida” ... e outros causos

A pandemia e um novo triciclo de vida

Dedé Odrin - quem não conheceu o fabricante e vendedor de veneno pra matar barata e pichilinga mais invocado do Antônio Bezerra? - reaparece faceiro pra contar mais uma de suas facécias. Num sinal de trânsito nas proximidades do Detran, oferece saquinhos de seus produtos montado num velho e quengado triciclo. Sem máscara e álcool gel, sem respeitar distância exigida. De um motorista parado no sinal da Godofredo Maciel com aquela rua acolá, ouviu dica de vida interessante, em diálogo igualmente:

- Bote uma máscara, meu peixe! - alertou o chofer do jipe.

- Isso aqui (apontando pro rosto que Deus lhe deu) é a "mascára"! - respondeu Dedé, na bucha.

- Pois cuide que pandemia é novo ciclo de vida da gente. Novo ciclo!!!

- Pro senhor! Pra mim, só um novo triciclo! 

Na terra como no céu, até o asfalto!

Mais uma história de Stepherson Macedo Jereissati de Queiroz (Paraíba), liso como nunca. Diz ele que um servente de pedreiro da sua paraibana Sousa trabalhava para a prefeitura na construção de um calçamento, "no pingo do mêi dia". De repente o filho de um barão do lugar aparece num carrão e dá um cavalo de pau na obra, jogando areia nos olhos do humilde operário. E se manda. Lamenta a brincadeira de mau gosto e diz cheio de afobação:

- É, sujeito! Quando nós morrer, vai ser tudo diferente! Eu que terei prestígio no céu! Quanto a você, nada de carrão pra ficar frescando! 

O servente morreu e foi 'dicretado' parar numa das "moradas de Meu Pai". Botando os pés nas plagas celestiais, o que vê à frente? A planta de um grande projeto, à espera do concurso do humilde operário para ser iniciado. São Pedro chama o rapaz a um canto e fala:

- Taqui um calçamento pro colega fazer!

Beleza. Passados alguns dias, quem dá o ar da graça no pedaço? O filho 'imbuanceiro' do ricaço de Sousa. E encontramos o simplório servente fazendo o tal calçamento de São Pedro. Sucede que o 'pleiboizinho' torna a dar um cavalo de pau, em carro ainda melhor. O servente fica fumando numa quenga.

- São Pedro, rapaz! Na terra eu sofri mais que sovaco de aleijado, aprendendo que quando chegasse no céu ia ser tudo diferente. E esse caba fez aqui comigo o mesmo que fez lá: num carrão, fez cavalo de pau e jogou areia nos meus ói.

Sereno, o velho pescador de Cafarnaum, filho de Jonas, explica:

- Filhinho, você nunca leu aquela passagem - "Assim na terra como no céu"? Se o elemento tinha um carrão lá, ele vai ter um aqui também. Mas olhe a compensação: você se especializou em calçamento. Fique tranquilo, todo o calçamento aqui será entregue a você!

Cera na bateria do ouvido

Entre filhos e netos, seu Djalma (90 anos) conta 120 rebentos. 85% catedráticos nas coisas da tecnologia. O papo que rola no entorno, pois, é só esse, todos os dias. Môco das oiças, precisando com urgência fazer lavagem no pavilhão auditivo, foi a uma loja de conserto e venda de suprimentos para aparelho celular, em vez do otorrino, na certeza de reaver as "ouvidâncias".

Lá chegando, a recepcionista pergunta em que poderia ser útil e o velho Djalma diz qual, de acordo com seus conhecimentos:

- Estou descarregado das oiças, minha bichinha...

Fonte: O POVO, de 10/07/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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