Um sargento, encarregado de dar instruções aos novos recrutas, recebeu a incumbência de falar sobre as Regiões Militares do Exército Brasileiro. Ao adentrar no auditório, os circunscritos põem-se em pé em respeito à autoridade, que representa o elo entre o comando e a tropa.
Já no palco, o sargento cumprimenta os novos incorporados:
– Bom-dia, a todos! Sejam bem-vindos ao glorioso Exército Brasileiro! Podem se sentar!
Todos se sentam, ante a ordem do sargento.
O instrutor desenrola um mapa físico (geográfico) do Brasil, e
começa sua preleção:
– Hoje vocês vão ser instruídos sobre a organização do Exército Brasileiro, no território nacional. Prestem bem
atenção à minha fala. Não quero ouvir um pio ou conversa paralela, senão já
terei gente pra ficar detido no quartel neste final de semana.
– Bem, como eu ia dizendo, uma região militar
constitui um comando das forças armadas de um país, encarregada da administração
militar de uma das partes do seu território. Ela tem como atribuição prover o apoio logístico aos Grandes
Comandos, às Divisões de Exército, às Brigadas e às diversas unidades
enquadradas em sua área geográfica de responsabilidade.
– Hum! Hum!
– Quem fez isso! Não me interrompam, não quero ouvir um só
pigarro de vocês.
– Prosseguindo: No caso do Brasil, nós contamos com doze Regiões Militares do Exército.
E apontando para o mapa, com uma longa vara, discorre:
– A 1ª Região Militar, com
jurisdição sobre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, tem a sua
sede do comando na cidade do Rio de Janeiro; a 2ª Região Militar, com
jurisdição sobre o estado de São Paulo, tem a sua sede do comando na cidade de
São Paulo; a 3ª Região Militar, ...
– Sargento! Por favor,
desculpe-me interrompê-lo – entra em cena um recruta. Eu vi que cada Região Militar tem
sua área delimitada e pintada com uma determinada cor. Mas tem uma pequena área
no Centro-Oeste, entre a 9ª e a 11ª Região Militar, que
está hachurada apenas com uma sombra.
– Isso não tem qualquer importância, rapaz! Vamos à frente:
a 3ª Região Militar, com
jurisdição sobre o estado do Rio Grande do Sul, tem a sua sede do comando na
cidade de Porto Alegre; a 4ª Região Militar, com
jurisdição sobre o estado de Minas Gerais, exceto a área do Triângulo Mineiro,
tem a sua sede do comando na cidade de Belo Horizonte; a 5ª Região Militar, ...
– Sargento! Por favor,
desculpe-me por interrompê-lo novamente. O senhor não nos deu explicação sobre
aquela nesga de terra sombreada do mapa que existe no Centro-Oeste.
– Eu já disse que isso não tem nenhuma importância,
recruta! Não me interrompa mais! Você está atrapalhando a minha aula. Vamos
adiante... Como eu falava, a 5ª Região Militar, com jurisdição sobre os estados do Paraná e
de Santa Catarina, tem a sua sede do comando na cidade de Curitiba; a 6ª Região Militar, com jurisdição sobre os estados da Bahia e
de Sergipe, tem a sua sede do comando na cidade de Salvador; a 7ª Região Militar, ...
– Sargento! Desculpe-me por
interrompê-lo de novo. Eu continuo sem entender o porquê daquela faixa de terra
sombreada do mapa. Afinal, ela está sob a jurisdição de qual Região Militar?
O sargento, que não sabia da resposta, pois era um pouco bitolado, retira o mapa da parede, enrolando-o, pondo fim a sua
preleção:
– Eu vim aqui para falar sobre grandes regiões geográficas,
e não de um pedacinho de terra onde o cão perdeu as botas. A aula tá terminada.
Nisso, o auditório caiu em uma estrepitosa gargalhada, seguida de
alguns contidos apupos.
E aí o sargento perdeu as estribeiras, diante do chato perguntador,
sentenciando-lhe:
– Você está detido por uma semana, para aprender a não
atrapalhar as instruções.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ordinário, marche! Médicos
contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2015. 112p. p.83-85.
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