Cair num
pranto de choro
Naquele
dia o garçom Olegário chegara atrasado ao trabalho, o Bar do Ganço ('ganço'
mesmo), não tendo ouvido o princípio do bate-boca/arranca-rabo entre meu primo
Francisco Matos Pinto e Biluca Pinto. O casal, na mesa ao lado da minha,
brigava feio, era de fim de romance - chifre no meio (corria o boato de que
Biluca andara se botando pra João Preá).
O
que "serve comida e bebida aos clientes do restaurante", atrasado por
força do prego de pneu da bicicleta à altura do Antônio Bezerra, pegou o bonde
do cacete verbal andando. Tentou apaziguar os ânimos, oferecendo aos
querelantes uma aguinha com açúcar, aluá, quissuco, cinzano, caldo de peixe...
- Quero burundanga nenhuma!
Quero meu Pinto de volta!
- impunha Chico.
- Deixa eu ficar com teu Pinto, Chico! Senão... - pedia ela
lamentativamente.
A
peleja por causa dum pinto soava realmente estranha. O fí de tia Hilda, demais
afetado, fazia fincapé.
- O Pinto é meu, é meu e é meu!
Você não foi digna do Pinto que eu te dei!
- Chico, sem seu Pinto eu fico nua! Tem nem graça!
- Quem mandou você se engraçar
doutro pinto?!?
- Não é Pinto, é Preá! - defende Biluca.
- Assumiu né, bichinha?!?
Olegário
tem relativo entendimento do imbróglio quando o primo Chico dispara essa:
- Vou contratar advogado
especialista em tiração de sobrenome do nome de quem caçoa dum Pinto!
E
deu por encerrada a conversa, para a compreensão in totum do garçom do Bar do
Ganço:
-
Em matéria de sua pessoa, adeus meu Pinto!!!
Peia pra dez,
Mundico levou sozinho!
Pense
num brugelho danado - buliçoso, arrochado, arengueiro, imoral, cheio de nós
pelas costas, aquele Mundico! Todo noite no telhado de casa, urinava no povo da
rua em esguichos fenomenais. E jogava pedra, chamava o povo pelo apelido,
mangava, vaiava, frescava até enjoar. A avó, quase 'cega da vista', repreendia
mas era mesmo que nada. Nem aí pros carões dele, o maluvido menino a cada dia
mais se especializava. Reclamação era o que não faltava.
Veja
como são as descoincidências da vida. Naquela noite, o pequeno presepeiro foi
jogar bola na quadra da Associação e, para não perder o embalo, pediu ao colega
Betinho fizesse as traquinagens que deram a Mundico fama no bairro. O comparsa
matou a pau; em matéria de esculhambação, dizem, fez melhor que o titular.
Ocorre
que a avó de Mundico, já sem paciência, bota uma escada e ganha a lapa do
telhado. Pega o suposto neto bonequeiro pelas bitacas (em plena ação) e dá-lhe
surra de cansanção maior do mundo. Arrasta lá de cima o pivete pela orelha, pra
terminar a mão de chibata na sala. Aos berros, o coisinha ruim tenta se
defender:
- A senhora tá enganada, dona
Mariquinha! Eu sou...
- ... um fí duma égua muito do
sem futuro!!!
Até
que alguma das netas avisa:
- Vó, esse em quem a senhora tá dando não é Mundico! É Beto de dona
Isaura.
Braba
como estava, a velhinha não perdeu o rebolado:
-
Bem feito! Peia em capiroto por tabela também vale!
Fonte: O POVO, de 16/10/2020.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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