Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
O mundo está perplexo e sofrido diante da devastação
causada pela pandemia da Covid-19. Há um ano, um vírus invisível
instalou-se entre nós e deixou pegadas de dor e morte.
O sofrimento inocente e o mundo imerso em lágrimas são a estrada mais
árdua para compreender a fé. É nas experiências do sofrimento que emerge a
pergunta: Onde está Deus? Na dor e no sofrimento, o crente e o ateu
perguntam por Ele.
A Igreja afirmava, no Vaticano II, que "uma das causas do
ateísmo e do indiferentismo religioso se deve ao silêncio de Deus diante do
sofrimento (Gs 19).
Em decorrência dessa realidade, surgem questionamentos: por que existe
dor, se Deus nos ama? Qual o motivo do silêncio diante da dor? Onde Deus está?
Percebe-se que algumas respostas causam revolta contra Deus. Mostram uma
concepção da onipotência de Deus, que resulta em insensibilidade diante do
sofrimento humano.
Nessa perspectiva, o mal expressa o desejo divino de punir a
humanidade por seus pecados. Se assim fosse, Deus não passaria de um
sádico, que se alegra com nosso sofrimento. Tal imagem alimenta e origina uma
fé equivocada.
Para falar de Deus em situações de sofrimento precisamos escutar o grito
de Jesus na cruz. A Cruz nos apresenta Deus sub contrário, isto é, sob seu
oposto: na humildade, debilidade e no sofrimento.
Na cruz de Jesus, Deus se revela, sofre e se solidariza com
seus filhos. Ele não está alheio, sofre conosco.
O silêncio na cruz de Jesus não representa indiferença, e sim o silêncio
de quem escuta e se compadece. Deus fala no silêncio, deixa-se conhecer na
ausência e mostra seu poder na debilidade. Só um Deus que padece é
capaz de se compadecer. Portanto, vejo Deus em tudo, nesta crise.
No trabalho exaustivo de médicos, profissionais de saúde, cientistas,
educadores que precisaram reaprender a ensinar, nos que rezam e espalham
esperança, alimentam famintos e animam o olhar para além da tragédia.
Deus age o tempo inteiro. Ele necessita de cada um de nós para se
revelar, contudo precisamos de fé para ver além do óbvio. Deus sempre se revela
no poder do amar e servir!
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em
Teologia. Diretor pastoral do Colégio Sto. Inácio.
Fonte: O Povo, de 13/3/2021.
Opinião. p.18.
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