Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira, bem cedo externou o
interesse pelos livros. Aos 18 anos de idade, passa a residir em BH. Seus
primeiros trabalhos foram publicados no “Diário de Minas”, na seção “Sociais”.
Daí para frente sua vida intelectual crescia dia a dia. Sua obra abrangia amor,
música, dificuldade, enfim, sentimentos que somente um poeta seria capaz de
possuí-los e interpretá-los nos momentos certos.
Pode-se dizer que o modernismo de Mário de Andrade, Oswald de Andrade
e Manuel Bandeira, e de outros, serviu de referência literária a Drummond. Fez
amigos importantes na política: Cristiano Machado, Gustavo Capanema, Afonso
Arinos de Melo Franco e José Maria Alckmin. A pedido de Capanema, transfere-se
para o Rio de Janeiro e se torna chefe de gabinete do Ministro da Educação e
Saúde Pública.
Carlos Drummond de Andrade sempre foi servidor público e apesar dos
seus dotes intelectuais e dos amigos políticos não se aproximou dos cargos
eletivos. Dedicou sua vida às letras, escrevendo poemas, contos e textos
antológicos. Preferia viver como um cidadão comum, passeando e pensando pelas
calçadas da Avenida Atlântica, em Copacabana.
Certa vez, encontrei-me com Drummond, por acaso, numa floricultura do
Rio. Era o ano de 1968, estava eu cursando a Fundação Getúlio Vargas (EPGE).
Lembro-me exatamente do dia: 3 de setembro. Fiquei nervoso, não era para menos.
Ali estava o grande poeta brasileiro. Trocamos um rápido olhar e sorri como se
estivesse pedindo permissão para comprar algumas rosas para minha mulher
Mirian, pois estávamos fazendo dois anos de casados.
Após ser atendido pela dona da loja de flores, não tive inspiração nem
tranquilidade para redigir o pequeno cartão. A senhora educada, amiga do poeta,
percebendo minha angústia, perguntou se ele podia me ajudar. Disse sim.
Escreveu uma conhecida estrofe de sua autoria: “A
gente sempre se amando / nem vê o tempo passar. O amor vai-nos ensinando / que
é sempre tempo de amar”. Obrigado, grande
poeta. Se hoje pudesse (15/04/2021) diria ao senhor que já estou com 54 anos de
casado, com a mesma mulher, e possuo 4 filhos, 9 netos e 2 bisnetos. Graças a
Deus.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC.
Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 16/4/2021.
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