quinta-feira, 6 de maio de 2021

O CAOS SANITÁRIO E AS ELEIÇÕES

Por Nilson Diniz (*)

No calor das discussões sobre o adiamento das eleições municipais do ano passado, em razão da pandemia, sistemática era a preocupação da Aprece e da CNM em relação ao agravamento da crise sanitária do novo coronavírus.

Sugeriu-se a transferência para outra data, como forma de evitar aglomerações, tão naturais em função do corpo a corpo dos candidatos com o eleitorado neste imenso País.

O fundamento para que o pleito não acontecesse baseia-se na Ciência, Mas, prevaleceu o argumento da defesa da democracia, com o viés da força política, em detrimento da salvaguarda de vidas.

No palco, três forças: a ciência, a economia e, acima de todas, a política, que imperou. Não se sopesou o perigo de aprofundamento das contaminações; o mantra era cumprir a Constituição.

O agravamento do quadro pelo mau exemplo de Brasília, com quatro ministros se revezando na pasta da Saúde só na pandemia, suscitou ambiente de insegurança sanitária ainda maior. E a coisa só piora.

Aumenta a discrepância entre o Governo Federal e as ações implantadas por estados e municípios. O presidente insiste em negar a ciência, faz descaso da vacina e do uso de máscara, promove aglomerações. O resultado é o comprometimento da valorosa estrutura do SUS.

Passados alguns meses, a marca de quase 3.000 mortes por Covid-19 em apenas um dia; iminente é o colapso do sistema de saúde brasileiro.

Entre os fatores do presente caos estão as eleições, que permitiram viabilizar o que era para ser bloqueado, confundindo a população.

Vieram os festejos de Natal, Ano Novo e carnaval, ampliando sobremodo as funestas repercussões da falta de coordenação nacional, corroborando conflitos. Um triste legado que contribuiu para os números alarmantes de agora.

Dos desencontros envolvendo ciência, economia e política, travados pelos entes federativos, resta amargar a confusão instalada, de sinais sombrios no porvir.

Em suma, os processos de 2020 e 2022 e a equivocada estratégia do presidente da República de fundamentar a reeleição em um pensamento negacionista (deixando a saúde do povo à deriva), estão na base dessa barafunda. 

(*)Médico. Presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece) e prefeito de Cedro.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/3/2021. Opinião. p.20.


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