Por Nilson Diniz (*)
No calor das discussões
sobre o adiamento das eleições municipais do ano passado, em razão da pandemia,
sistemática era a preocupação da Aprece e da CNM em relação ao
agravamento da crise sanitária do novo coronavírus.
Sugeriu-se a transferência para outra data, como forma
de evitar aglomerações, tão naturais em função do corpo a corpo dos
candidatos com o eleitorado neste imenso País.
O fundamento para que o pleito não acontecesse
baseia-se na Ciência, Mas, prevaleceu o argumento da defesa
da democracia, com o viés da
força política, em detrimento da salvaguarda de vidas.
No palco, três forças: a ciência, a economia e,
acima de todas, a política, que imperou. Não se sopesou o perigo de
aprofundamento das contaminações; o mantra era cumprir a
Constituição.
O agravamento do quadro pelo mau exemplo de
Brasília, com quatro ministros se revezando na pasta da Saúde só na pandemia,
suscitou ambiente de insegurança sanitária ainda maior. E a coisa só piora.
Aumenta a discrepância entre o Governo
Federal e as ações implantadas por estados e municípios. O presidente
insiste em negar a ciência, faz descaso da vacina e do uso de máscara,
promove aglomerações. O resultado é o comprometimento da valorosa estrutura do
SUS.
Passados alguns meses, a marca de quase 3.000
mortes por Covid-19 em apenas um dia; iminente é o colapso do sistema de
saúde brasileiro.
Entre os fatores do presente caos estão as
eleições, que permitiram viabilizar o que era para ser bloqueado,
confundindo a população.
Vieram os festejos de Natal, Ano Novo e
carnaval, ampliando sobremodo as funestas repercussões da falta de coordenação
nacional, corroborando conflitos. Um triste legado que contribuiu
para os números alarmantes de agora.
Dos desencontros envolvendo ciência, economia e
política, travados pelos entes federativos, resta amargar a confusão instalada,
de sinais sombrios no porvir.
Em suma, os processos de 2020 e 2022 e a equivocada
estratégia do presidente da República de fundamentar a reeleição em
um pensamento negacionista (deixando a saúde do povo à deriva), estão
na base dessa barafunda.
(*)Médico. Presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará
(Aprece) e prefeito de Cedro.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/3/2021. Opinião.
p.20.
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