Por Monalisa Torres (*)
Há um ano confirmavam-se as primeiras mortes
por Covid19 no Brasil. Àquela altura, muitos países já sofriam com
o colapso do sistema de saúde e presenciavam seus cidadãos morrerem às
centenas.
A
adoção de medidas como controle de circulação de pessoas foram
alternativas eficazes para reduzir a velocidade da tragédia enquanto governos
organizavam estratégias de contra-ataque.
Por
aqui, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em pronunciamento oficial
(24/03/20), chamou o coronavírus de "gripezinha",
condenou governadores que decretaram isolamento social e citou o uso cloroquina como
tratamento para Covid19. Naquele momento, ficou claro que o presidente
politizaria as medidas contra a pandemia.
Em
sua narrativa tresloucada, afirmou que a opção de governadores em adotar
lockdown tratava-se de boicote ao governo federal no plano econômico.
A
cobertura da mídia sobre a maior crise sanitária não passava
de exagero da "imprensa mentirosa", cujo objetivo seria desgastá-lo
no plano político. Apostou no "tratamento precoce" que,
segundo ele, protegeria as pessoas para manter a economia funcionando.
No
Ceará alguns políticos compraram a tese. Cito dois: o deputado federal Capitão
Wagner (Pros) e o senador Eduardo Girão (Pode).
Opositores
ao governo do Estado, ambos são contrários ao lockdown. Argumentam que
trabalhador e empresário não podem ser penalizados. Em artigo no O POVO
(13/03), Girão chegou a questionar a eficácia da vacina e a
defender "tratamento precoce".
A
politização da pandemia não se restringe ao aspecto discursivo, mas também
produz efeitos práticos sobre as políticas públicas como a falta de coordenação
nacional no enfrentamento à pandemia, letargia quanto ao plano
nacional de imunização, quantidade reduzida de recursos enviados aos estados,
etc.
Comportamento
também observado em relação a parlamentares quando, por questões políticas,
recusam-se a enviar recursos de suas emendas parlamentares para
gastos com saúde em seus estados.
Numa
democracia, o papel da oposição é fazer contraponto aos governos e propor
alternativas. Mas em tempos como esse, é também unir forças contra o inimigo em
comum: a Covid. Parafraseando Wagner, "o bem maior que é a vida, não pode
se sobrepor à politicagem". Falta ao deputado (e seu
grupo) seguir o próprio conselho.
(*) Cientista política. Professora
da Uece. Pesquisadora do Lapem/UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/3/21. Opinião, p.21.
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