Filha primogênita de Nilo Alves de Lima e Gesumira
Gurgel Alves de Lima, Lise Mary Alves de
Lima nasceu no município de Senador Pompeu-Ceará, em 9/06/1938. Possuía,
apenas, um ano de idade quando teve poliomielite e, logo depois, seu pai fora
transferido para Sobral, residindo na Princesa do Norte até os 14 anos, tendo
cursado o primário e o ginasial no Ginásio Sant’Ana. Mudou-se para Fortaleza em
1953, terminando o curso científico no Colégio da Imaculada Conceição.
Em 1956, ingressou na Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Ceará (UFC), graduando-se em 1961, recebendo medalha de
ouro ao término ao Curso Médico, por seu rendimento acadêmico. Em conjunto com
alguns colegas, inaugurou a residência do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina.
Sua primeira fase de formação profissional, incluiu a
referida residência em Clínica Médica, uma residência em Banco de Sangue no
Hospital dos Servidores do Estado (HSE – 1964-1965) e uma Pós-Graduação em
Imunologia na Faculdade de Ciências Biológicas (1965), sendo as duas últimas no
Rio de Janeiro.
Regressando à Fortaleza, para assumir as chefias dos
bancos de sangue do Hospital das Clínicas e da Maternidade Escola Assis
Chateaubriand da UFC, pós-graduou-se, nesse meio tempo, obtendo o título de
especialista em Hemoterapia.
Posteriormente, uma antiga professora, Maria da Piedade
C. Vergne, a convidou a ingressar na Universidade de Brasília (UnB). Aceitando
o convite, fora admitida em maio de 1968. Além das atribuições de ensino e
pesquisa, dirigiu também o Banco de Sangue da Unidade Integrada de Saúde de
Sobradinho (UISS), a qual era à época, o hospital universitário.
Em 1971, foi aceita pelo Professor Robert Waitz, para
uma residência em Imuno-hemoterapia, no Centre de Transfusion Sanguine
da Universidade de Estrasburgo, França. Nesse ínterim, desligou-se da
Universidade de Brasília em 1973, sendo posteriormente reintegrada, em dezembro
de 1994, por meio da concessão de anistia, a qual fora confirmada pela Constituição
Federal de 1988.
No mesmo ano, em 1973, através de concurso público, foi
admitida no Hospital dos Servidores da União – HSU (IPASE), como hemoterapeuta,
ressaltando-se ter exercido o cargo de chefia junto ao referido hospital, até o
ano de 1981.
No Brasil, começava-se a realizar transplantes, porém,
apenas em Curitiba existia laboratório de tipagem leucocitária. Assim, ainda em
1973, fora solicitado à Dra. Lise Mary, através da diretoria do HSE — Hospital
dos Servidores do Estado no Rio de Janeiro —, que procedesse a construção de um
laboratório igual. Desta feita, passou um mês, no referido hospital,
viabilizando tal pedido e, ainda, realizando o que seria o primeiro transplante medular, em conjunto e sob supervisão, do Professor Stastny da Universidade de
Dallas (EUA).
Nesse período de espera, — enquanto era construído o
laboratório — aproveitou de maio a julho de 1974, para realizar um estágio em
Imunologia de Leucócitos e Plaquetas no Institut des Recherches sur les
Maladies du Sang, Hôpital Saint Louis, Paris-França. Esse instituto,
conhecido também, como France Tansplants,
era dirigido pelo Professor Jean Dausset que em 1980 foi aquinhoado com o Prêmio
Nobel de Medicina. Dra. Lise Mary detinha a honra de ter sido a primeira
estagiária brasileira do Dr. Dausset, assim como de ser sua amiga. Fato este
que, ao retornar à Brasília, resultou na realização de vários feitos, e.g. 80
tipagens leucocitária de indivíduos da região, as quais possibilitaram que
fossem realizados transplantes, utilizando-se, quase sempre, os antissoros
detectados em serviço. Conquistas estas que a permitiram compartilhar
experiências junto a diversos laboratórios, de diferentes estados.
Entre 1980 e 1989, foram solicitados seus serviços em
vários órgãos governamentais, como Comissão Nacional de Residência Médica;
Grupo Técnico de Coordenação e Implantação do PROSANGUE, como representante do
MPAS; Gerência de Sistemas Integrados de Alta Tecnologia do INAMPS etc. Esse período
era considerado por Dra. Lise Mary como o melhor de sua vida profissional.
Em 1976, mediante aprovação em concurso público,
trabalhou junto à Fundação Hospitalar do Distrito Federal, lotada no Banco de
Sangue do Hospital de Base, perdurando até 1997, quando aposentou-se por
invalidez.
Em 1990, fora convidada pelo Prof. Dr. Paulo Eduardo de
Abreu Machado a fazer o doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), em Botucatu-SP, e auxiliá-lo
na melhoria do serviço de imuno-hemoterapia. Em dezembro de 1992, foi
habilitada Doutora em Medicina, defendendo a tese: “Contribuição ao
conhecimento das lesões de estocagem: estudo do sistema de óxido-redução
glutationa dependente em eritrócitos coletados em CPDA-1”.
De volta à Brasília, trabalhou até o ano de 1997,
quando decidiu aposentar-se oficialmente, retornando à Fortaleza em dezembro do
mesmo ano.
Em Fortaleza, dedicou-se à organização e à tradução de
livros, inclusive, tendo publicado uma biografia de um grande amigo e colega gastroenterologista
sobralense, intitulado “Doutor Pessoa, Sacerdote da Medicina”, publicado pela Secretaria
de Cultura de Sobral-CE.
A partir de sua aposentadoria até os dias fatídicos,
beneficiada por um vasto conhecimento e contemplada com dons artísticos e
musicais — em sua juventude tocou acordeom —, dedicou-se, também ao piano, ao
trabalho com argila —transformando-a através do fogo em belas peças de
cerâmica. Como costumava dizer: “na arte, como na vida...” —, leitura e,
principalmente, ao cultivo de boas amizades e do imenso amor de sua filha e de sua
neta Mariana.
A Dra. Lise Mary foi admitida na Cadeira de Nº 8 da
Academia Cearense de Medicina (ACM) em 26/01/2007, sendo recepcionada por seu estimado
amigo-irmão Acad. João Evangelista Bezerra Filho, conservando-se como membro
titular até 13/09/2019, quando passou para o quadro de membro honorável desse
sodalício, ensejando a posse da Acad. Sara Lúcia Ferreira Cavalcante, como
sucessora de sua cadeira.
Faleceu aos 82 anos de idade, em Fortaleza em 5/06/2021,
no ano em que completaria as seis décadas de formada em Medicina, deixando um
lastro de imensas saudades, entre tantas pessoas que tiveram o prazer de
conviver com ela.
Acad. Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Membro titular da ACM
– Cadeira 18
*Publicado
In: Jornal do médico digital, 2(16): 36-38, agosto de 2021. (Revista Médica
Independente do Ceará).
RD-16-Agosto21-Cardiologia-UPA-app.pdf
(jornaldomedico.com.br)
**Postado
no Blog do Marcelo Gurgel em 28 de agosto de 2021.
Te amo mãe. Saudades..
ResponderExcluirTe amo mãe! Saudades...
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