sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Crônica: “O ponto de vista no ponto final” ... e outros causos

O ponto de vista no ponto final

João Pedro, o intelectual que se engraçou pela própria candura do sertão - a menina Olívia (Lili), desde moço mostrou disposição pela Filosofia, Sociologia, Psicologia. Para uma mente brilhante assim, o carinho da criaturinha brejeira, mas corajosa e trabalhadeira, caía perfeito - um refrigério pra alma.

Casaram-se, tiveram filhos, mudaram-se pra São Paulo. Mais tarde, a Europa os tinha. No Velho Continente, o Doutorado de João. Os meninos crescem e descobre ele, enfim (final da década de 60), os encantos filosófico-existencialistas de Simone de Beauvoir. A escritora e feminista francesa enchia o vontadoso conterrâneo de inspiração.

Quando ela lançou "A força das coisas", o macho véi cearense foi ao delírio. Comprou e leu todos os livros e teses. Verdadeiro fã, tinha foto de Simone de baby doll. Em casa, de cada dez frases pronunciadas por João, oito eram Simone de Beauvoir. Matutinha enciumada, claro. Até receita de bolo assinada pela autora de o "Balanço final" apareceu no lar humilde de Champs-Élysées, onde residiam.

Um dia, ainda na França, a separação. Ela, magoada deveras, fica com os meninos; ele, lépido e fagueiro, vai pras cercanias da Université Paris-Sorbonne, praticamente sentando-se no colo da mulher de Jean Paul Sartre. Passados 15 dias do fim do romance, João sente falta de cueca, meia e bermuda. Telefona para uma Olívia lacônica, sentida e braba com o agora ex-companheiro. Prudente, arrisca perguntar se ficou alguma coisa dele em casa. Ela...

- Sim! Dois livros daquela fulerage!

Milagre de revestrés

Enquanto encarnados, nossa fé em Deus é só uma coisinha. Dizemos tê-la quando as coisas estão indo muito bem; deu problema, escaFEde-se. Que o diga o companheiro de uma dessas novas igrejas, que em diálogo com o colega Lulu provou-nos quão distantes estamos ainda da Sabedoria Divina. Confira.

- Meu pastor predileto! - introduz Lulu. - Tudo na paz?

- Marrumeno, irmão Lulu! Tô cheio de dúvidas!

- A dúvida é a antessala do conhecimento. Mas me fale qual o...

- É que eu sou casado e tenho duas namoradas.

- Meu pastor! Casado e tem duas namoradas?!?

- Tinha, Lulu, tinha! Abusei as duas!

- Graças a Deus!!!

- Nã! Na minha mente esse abusamento foi o cão que atentou!

Notas de rodapé

1 - Olimpíadas do Japão de há pouco. Seleções de futebol feminino do Brasil e da Coreia em campo e um matuto em São José das Moitas, assistindo à peleja, percebe que as coreanas são todas muito parecidas. E comenta cismado:

- Égua! Essas meninas são duma barrigada só!!! Tudo igual!!!

2 - No perfil do zap de Agliberto, a foto utilizada revela um sujeito ainda jovem, robusto, esbelto; até cabelo tinha. Um homem bonito, diríamos. Vendo aquela pessoa tão diferente da que é presentemente, o amigo O Povo Donda não se contém:

- Égua, Agliberto! Tá tão novo aqui, macho! É tu mesmo?

- É... Ainda não me atualizei!

Fonte: O POVO, de 17/9/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário