Houve um entrevero entre a Dra. Luíza
Almeida (nome fictício) e a mãe de uma criança que cobrava a prescrição de um antibiótico para
sua filha, o qual ela queria, a todo custo, pegar na farmácia de um hospital
público infantil localizado em Fortaleza. A médica justificou a não indicação
da antibioticoterapia, nesses termos:
– D. Zenaide, a sua garota tem só um
resfriado comum. Basta oferecer sucos de limão e de laranja à vontade e cuidar
para que repouse nesses dias, não fazendo extravagâncias. Vou prescrever
vitamina C, para a senhora receber na nossa farmácia, que vai servir para
melhorar as defesas dela.
– Mas eu quero os antibióticos. É mais
garantido: a minha “bichinha” pode estar com uma “pineumonia encubada” –
insistiu a mãe da Raquelle.
– Sua filha não tem pneumonia. Ela está
apenas resfriada, com um vírus, e os antibióticos não fazem efeito nos vírus –
ponderou a pediatra.
– Sua chata! Acho que você é “muita da
incompetente”. As doutoras lá do posto de saúde, perto de minha casa, passam
logo o antibiótico e despacham a gente. Só não fui lá porque tá faltando
antibióticos na farmácia pra distribuição pro povo.
– Senhora, trate-me com respeito, por favor.
Tenho Residência em Pediatria e trabalho como médica de crianças há mais de
vinte e cinco anos.
– Se não é por incompetência, deve de ser
porque você quer economizar os remédios, pra ficar de bem com a diretora dessa
joça, sua rapariga – disse a mulher, elevando o tom da voz e baixando, ainda
mais, o teor do diálogo.
– A senhora está sendo muito grosseira! – e
acrescentou – eu não sou paga para aguentar abuso de pacientes, não!
– Enganou-se “queridinha”! Você é paga com o
meu imposto e taí pra cuidar do povão, “sua velha” – retorquiu D. Zenaide.
Nesse instante, a Dra. Luíza Almeida, ferida
no seu ponto fraco, perdeu as estribeiras e partiu para a jugular de sua
desafeta:
– Eu engoli a seco todas as suas ofensas,
chamando-me de chata, incompetente e rapariga; mas, me chamar de velha, eu não
aguento. Suporto tudo, menos ser tachada de velha.
O arranca-rabo entre as duas só terminou
quando os seguranças do hospital apartaram as contendoras.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sobrames/CE
Extraído
de: SILVA, Marcelo
Gurgel Carlos da. Medicina, meu humor!
Contando causos médicos. Fortaleza: Edição do Autor, 2012. 120p. p.15-16.
*Republicado In: Causos médicos: médica velha. Informativo AMC (Associação Médica Cearense). Outubro de 2021 - Edição n.07, p.11 (em pdf).
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