domingo, 10 de outubro de 2021

MÉDICA VELHA

Houve um entrevero entre a Dra. Luíza Almeida (nome fictício) e a mãe de uma criança que cobrava a prescrição de um antibiótico para sua filha, o qual ela queria, a todo custo, pegar na farmácia de um hospital público infantil localizado em Fortaleza. A médica justificou a não indicação da antibioticoterapia, nesses termos:

– D. Zenaide, a sua garota tem só um resfriado comum. Basta oferecer sucos de limão e de laranja à vontade e cuidar para que repouse nesses dias, não fazendo extravagâncias. Vou prescrever vitamina C, para a senhora receber na nossa farmácia, que vai servir para melhorar as defesas dela.

– Mas eu quero os antibióticos. É mais garantido: a minha “bichinha” pode estar com uma “pineumonia encubada” – insistiu a mãe da Raquelle.

– Sua filha não tem pneumonia. Ela está apenas resfriada, com um vírus, e os antibióticos não fazem efeito nos vírus – ponderou a pediatra.

– Sua chata! Acho que você é “muita da incompetente”. As doutoras lá do posto de saúde, perto de minha casa, passam logo o antibiótico e despacham a gente. Só não fui lá porque tá faltando antibióticos na farmácia pra distribuição pro povo.

– Senhora, trate-me com respeito, por favor. Tenho Residência em Pediatria e trabalho como médica de crianças há mais de vinte e cinco anos.

– Se não é por incompetência, deve de ser porque você quer economizar os remédios, pra ficar de bem com a diretora dessa joça, sua rapariga – disse a mulher, elevando o tom da voz e baixando, ainda mais, o teor do diálogo.

– A senhora está sendo muito grosseira! – e acrescentou – eu não sou paga para aguentar abuso de pacientes, não!

– Enganou-se “queridinha”! Você é paga com o meu imposto e taí pra cuidar do povão, “sua velha” – retorquiu D. Zenaide.

Nesse instante, a Dra. Luíza Almeida, ferida no seu ponto fraco, perdeu as estribeiras e partiu para a jugular de sua desafeta:

– Eu engoli a seco todas as suas ofensas, chamando-me de chata, incompetente e rapariga; mas, me chamar de velha, eu não aguento. Suporto tudo, menos ser tachada de velha.

O arranca-rabo entre as duas só terminou quando os seguranças do hospital apartaram as contendoras.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sobrames/CE

Extraído de: SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Medicina, meu humor! Contando causos médicos. Fortaleza: Edição do Autor, 2012. 120p. p.15-16.

*Republicado In: Causos médicos: médica velha. Informativo AMC (Associação Médica Cearense). Outubro de 2021 - Edição n.07, p.11 (em pdf).

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