Falso que só
tábua de fojo!
Ora
de desmitificar a conversa de que, mesmo soltando um gato a quilômetros de
distância de onde vive, o bichano será capaz de voltar pra casa (talvez no
próprio dia) sem a ajuda de seu ninguém, como se tivesse um GPS na croa da
cabeça. Provarei que é lorota! Ofélia, "moça véa, vitalina bota pó",
tipo avoada, é que vai desnudar a questão. Ofélia elegante, salto alto e batom,
voz articulada, qual professora ginasial...
Residente
no Amadeu Furtado, fora ela passar um final de semana na casa do primo
Tintinco, na Caucaia (distrito de Curicaca). A tiracolo, a tradicional bolsa
que mais lembrava surrão de carregar rapadura. Visita benquista, levava o tempo
a conversar amenidades com a esposa do primo, de nome De Jesus, na cozinha. A
bolsa (ou surrão de carregar rapadura), deixava na sala, pendurada num armador.
A
gatinha de Tintinco, de nome Jupira, dera à luz seis bichinhos mimosos. O dono
da casa, já pouco chegado a felino, tinha agora problema graúdo a resolver: o
que fazer com a meia dúzia dos animais recém-paridos? Aquilo lhe bulia o juízo.
Pior: a mãe levava os filhotes para amamentar no banco traseiro de seu jipe de
estimação. E agora? A não ser que Ofélia... Discretamente perguntou à mulher:
-
Tu acha, De Jesus, que ela levaria esses bichos pra Fortaleza?
-
Ofélia? De jeito e maneira! Detesta gato!
Domingo,
boquinha da noite. Ofélia se prepara pra voltar. Joga os apetrechos na bolsa (o
tal surrão), sente "um pesinho" a mais, mas... Deve ser as mangas que
ganhara do primo gentil. Vai a pé da Curicaca ao centro de Caucaia. Embarca
"no expresso da Vitória". Antes das 19 horas está em casa. Mas, ao
abrir a bolsa, lá estavam...
-
Os seis gatinhos do Tintinco!!! Coitado, deve estar doido à procura deles!!! Eu
dou por vista como não estará a gatinha mãe deles!!!
Tirou
nem a roupa do corpo, a Ofélia, e voltou na mesma pisada à Caucaia, pra
devolver a imbiricica de gatos.
O fim da picada
Conversavam
à sombra da mangueira coité encorpada - após o almoço, disputando o grosso
tronco em formato de espaldar, os colegas taxistas Nilton Isprito de Porco,
Dandão Caô, Jussier Barriga de Peba, Neto Batoré e Neném Cururu. Uns já até dormiam
quando Barriga de Peba contou história que, sei não...
Seu
Zé costumava dizer à esposa Terezinha que, estivesse ela certa, seria o fim de
tudo o dia em que ele começasse a fazer "certas perguntas
indecorosas".
-
Tipo? - indagou a esposa.
-
Sei lá, Tereza! Algo como: já tomei meu remédio? Fiz a barba? Vim dali ou nem
saí daqui há pouco? Como é o nome da senhora?
-
Faço o que, nesse caso? - de novo perguntou uma dona Terezinha sarcástica.
-
Pode me internar!
Ocorre
que a psicologia feminina sempre transcende. Tem lá quem vá com a sensibilidade
delas! Leem nas estrelas o que o caba véi mal consegue ver com o fucim atolado
num prato de buchada. Terezinha sabia que havia uma pergunta de seu Zé que era
a gota d'água. Pergunta que foi capaz de fazer numa noite de Natal.
-
Minha mulher, eu já fiz meu cocô hoje?
Cirúrgica
dona Terezinha:
-
Meu amor tem preferência por algum hospital?
Fonte: O POVO, de 10/12/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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