sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Crônica: “Falso que só tábua de fojo!” ... e outro causo

Falso que só tábua de fojo!

Ora de desmitificar a conversa de que, mesmo soltando um gato a quilômetros de distância de onde vive, o bichano será capaz de voltar pra casa (talvez no próprio dia) sem a ajuda de seu ninguém, como se tivesse um GPS na croa da cabeça. Provarei que é lorota! Ofélia, "moça véa, vitalina bota pó", tipo avoada, é que vai desnudar a questão. Ofélia elegante, salto alto e batom, voz articulada, qual professora ginasial...

Residente no Amadeu Furtado, fora ela passar um final de semana na casa do primo Tintinco, na Caucaia (distrito de Curicaca). A tiracolo, a tradicional bolsa que mais lembrava surrão de carregar rapadura. Visita benquista, levava o tempo a conversar amenidades com a esposa do primo, de nome De Jesus, na cozinha. A bolsa (ou surrão de carregar rapadura), deixava na sala, pendurada num armador.

A gatinha de Tintinco, de nome Jupira, dera à luz seis bichinhos mimosos. O dono da casa, já pouco chegado a felino, tinha agora problema graúdo a resolver: o que fazer com a meia dúzia dos animais recém-paridos? Aquilo lhe bulia o juízo. Pior: a mãe levava os filhotes para amamentar no banco traseiro de seu jipe de estimação. E agora? A não ser que Ofélia... Discretamente perguntou à mulher:

- Tu acha, De Jesus, que ela levaria esses bichos pra Fortaleza?

- Ofélia? De jeito e maneira! Detesta gato!

Domingo, boquinha da noite. Ofélia se prepara pra voltar. Joga os apetrechos na bolsa (o tal surrão), sente "um pesinho" a mais, mas... Deve ser as mangas que ganhara do primo gentil. Vai a pé da Curicaca ao centro de Caucaia. Embarca "no expresso da Vitória". Antes das 19 horas está em casa. Mas, ao abrir a bolsa, lá estavam...

- Os seis gatinhos do Tintinco!!! Coitado, deve estar doido à procura deles!!! Eu dou por vista como não estará a gatinha mãe deles!!!

Tirou nem a roupa do corpo, a Ofélia, e voltou na mesma pisada à Caucaia, pra devolver a imbiricica de gatos.

O fim da picada

Conversavam à sombra da mangueira coité encorpada - após o almoço, disputando o grosso tronco em formato de espaldar, os colegas taxistas Nilton Isprito de Porco, Dandão Caô, Jussier Barriga de Peba, Neto Batoré e Neném Cururu. Uns já até dormiam quando Barriga de Peba contou história que, sei não...

Seu Zé costumava dizer à esposa Terezinha que, estivesse ela certa, seria o fim de tudo o dia em que ele começasse a fazer "certas perguntas indecorosas".

- Tipo? - indagou a esposa.

- Sei lá, Tereza! Algo como: já tomei meu remédio? Fiz a barba? Vim dali ou nem saí daqui há pouco? Como é o nome da senhora?

- Faço o que, nesse caso? - de novo perguntou uma dona Terezinha sarcástica.

- Pode me internar!

Ocorre que a psicologia feminina sempre transcende. Tem lá quem vá com a sensibilidade delas! Leem nas estrelas o que o caba véi mal consegue ver com o fucim atolado num prato de buchada. Terezinha sabia que havia uma pergunta de seu Zé que era a gota d'água. Pergunta que foi capaz de fazer numa noite de Natal.

- Minha mulher, eu já fiz meu cocô hoje?

Cirúrgica dona Terezinha:

- Meu amor tem preferência por algum hospital?

Fonte: O POVO, de 10/12/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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