sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Crônica: “Tudo certo, nada confirmado!” ... e outros causos

Tudo certo, nada confirmado!

Era menino e ouvia papai contar de um perigoso e desassombrado escanchaneto de Lampião - Zefirino Couro de Tamanco, cujo passatempo era açoitar o povo, quebrar as coisas na rua, meter pé na carreira e se esconder no mato. Bastava tomar uma terça caprichada de cana e o cão baixar nele. Procurado pelas autoridades.

Dava em paisano, soldado, padre, galego. E dava logo nuns quinze duma chibatada só! Quando não tinha mais em quem bater, destruía cercado com a testa e carro no cascudo. Passou 23 anos nessa arrumação arruaçativa. Nunca prenderam ele? - indaga o amigo. Respondo na maior convicção que sim, fez por merecer! Quando?

- No dia em que cometeu a maior das heresias que se pode fazer a um cristão.

- O que aprontou Zefirino de tão grave? - assusta-se você.

- Açoitou o vaqueiro João Galeno em circunstância arqui-inapropriada.

Couro de Tamanco podia ter feito tudo, menos aquilo. Tanto é verdade que após a mãozada de tabefe que aplicou em João Galeno, a consciência pesou. E advinha onde ele foi se esconder? Em casa, por remorso! Informada do paradeiro do elemento, a polícia desconfiou da presepada. Como um caba de tamanha periculosidade esconder-se na própria casa? Cheiro de emboscada. Com mandado de prisão decretado por lesão corporal e prejuízo ao patrimônio público, o descente de Virgulino estava em casa, sim.

Destacamento policial de cinco cidades do entorno cercou a residência do valentão. Rifles e espingardas apontados no rumo de janelas e portas. Couro de Tamanco silente lá dentro, parecia chorar. Sargento (conhecido por Gomes Barriga de Peba) grita:

- Saia de mãos pra riba que ninguém chibateará você, Zefirino!

- Saio já. Me dê sete minutim! - disse Zefirino com voz pronunciada sem força.

Sete minutos decorridos e o procurado bandido se entrega. Algemas nele. Fácil, fácil. Um radialista convidado a cobrir o evento fez a pergunta que todos intentavam: por que, sem resistência alguma? A resposta foi inesperada - poucos sabem disso (e que lição!):

- Açoitei João Galeno em plano ato defecativo! Um despautério!

- Que mal há nisso? - indaga o colega.

- Nunca na sua vida dê num homem no momento em que ele estiver obrando! Antes a boa morte! Me levem!

Função e valor do "nem"

Professor, compositor, músico e luthier Pardalzinho (Paulo de Tarso Pardal) tá dando dicas valiosas de Português no seu Instagram e pense! Verdadeiras pérolas. A esse respeito, sugiro ao querido amigo faça uma análise sobre a função e tudo mais que envolver a conjunção e advérbio "nem", nas seguintes circunstâncias:

- Nem que eu me arrombe!

- Nem incha!

- Bate nem o centro!

- Nem Zé, nem Cazuza!

- Tô nem vendo!

- Nem escuta a zoada da mutuca!

- Nem é nem deixa de é!

- "Nem de véi eu gosto!" (Onorina de João Cabôco).

- "Pobre é que nem lombriga: quando sai da merda, morre!" (Isaltina - Falcão).

Aviso de celular roubado!

Furtaram o aparelho do Gildo Cabeça de Prego e ele pede encarecidamente: "Amigo ladrão, pode ficar com o celular. Peço só que ligue pro fixo aqui de casa e me diga os números duma milhar do jogo do bicho no caderno de notas, o endereço dum caba acolá que me mil e o zap de Jandira, um pessoalzinho que tenho no Carlito. Beleza?"

Fonte: O POVO, de 26/11/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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