Tudo certo, nada
confirmado!
Era
menino e ouvia papai contar de um perigoso e desassombrado escanchaneto de
Lampião - Zefirino Couro de Tamanco, cujo passatempo era açoitar o povo,
quebrar as coisas na rua, meter pé na carreira e se esconder no mato. Bastava
tomar uma terça caprichada de cana e o cão baixar nele. Procurado pelas
autoridades.
Dava
em paisano, soldado, padre, galego. E dava logo nuns quinze duma chibatada só!
Quando não tinha mais em quem bater, destruía cercado com a testa e carro no
cascudo. Passou 23 anos nessa arrumação arruaçativa. Nunca prenderam ele? -
indaga o amigo. Respondo na maior convicção que sim, fez por merecer! Quando?
-
No dia em que cometeu a maior das heresias que se pode fazer a um cristão.
-
O que aprontou Zefirino de tão grave? - assusta-se você.
-
Açoitou o vaqueiro João Galeno em circunstância arqui-inapropriada.
Couro
de Tamanco podia ter feito tudo, menos aquilo. Tanto é verdade que após a
mãozada de tabefe que aplicou em João Galeno, a consciência pesou. E advinha
onde ele foi se esconder? Em casa, por remorso! Informada do paradeiro do
elemento, a polícia desconfiou da presepada. Como um caba de tamanha
periculosidade esconder-se na própria casa? Cheiro de emboscada. Com mandado de
prisão decretado por lesão corporal e prejuízo ao patrimônio público, o
descente de Virgulino estava em casa, sim.
Destacamento
policial de cinco cidades do entorno cercou a residência do valentão. Rifles e
espingardas apontados no rumo de janelas e portas. Couro de Tamanco silente lá
dentro, parecia chorar. Sargento (conhecido por Gomes Barriga de Peba) grita:
-
Saia de mãos pra riba que ninguém chibateará você, Zefirino!
-
Saio já. Me dê sete minutim! - disse Zefirino com voz pronunciada sem força.
Sete
minutos decorridos e o procurado bandido se entrega. Algemas nele. Fácil,
fácil. Um radialista convidado a cobrir o evento fez a pergunta que todos
intentavam: por que, sem resistência alguma? A resposta foi inesperada - poucos
sabem disso (e que lição!):
-
Açoitei João Galeno em plano ato defecativo! Um despautério!
-
Que mal há nisso? - indaga o colega.
-
Nunca na sua vida dê num homem no momento em que ele estiver obrando! Antes a
boa morte! Me levem!
Função e valor do
"nem"
Professor,
compositor, músico e luthier Pardalzinho (Paulo de Tarso Pardal) tá dando dicas
valiosas de Português no seu Instagram e pense! Verdadeiras pérolas. A esse
respeito, sugiro ao querido amigo faça uma análise sobre a função e tudo mais
que envolver a conjunção e advérbio "nem", nas seguintes
circunstâncias:
-
Nem que eu me arrombe!
-
Nem incha!
-
Bate nem o centro!
-
Nem Zé, nem Cazuza!
-
Tô nem vendo!
-
Nem escuta a zoada da mutuca!
-
Nem é nem deixa de é!
-
"Nem de véi eu gosto!" (Onorina de João Cabôco).
-
"Pobre é que nem lombriga: quando sai da merda, morre!" (Isaltina -
Falcão).
Aviso de celular
roubado!
Furtaram
o aparelho do Gildo Cabeça de Prego e ele pede encarecidamente: "Amigo
ladrão, pode ficar com o celular. Peço só que ligue pro fixo aqui de casa e me
diga os números duma milhar do jogo do bicho no caderno de notas, o endereço
dum caba acolá que me mil e o zap de Jandira, um pessoalzinho que tenho no
Carlito. Beleza?"
Fonte: O POVO, de 26/11/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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