Por Eduardo Affonso, poeta mineiro
As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do
léxico. Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os
protozoários.
As palavras mais pernósticas são sempre
proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.
Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe
do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.
Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com
ímpeto, com todas as sílabas.
Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais
crédito.
É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o
vândalo.
O inclinado e o íngreme.
O irregular e o áspero.
O grosso e o ríspido.
O brejo e o pântano.
O quieto e o tímido.
Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice.
Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice.
Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.
É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido.
Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser
Pontífice.
(Este último parágrafo contém algo raríssimo:
proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As
figuras mais antipáticas da gramática.)
Quer causar um impacto extraordinário? Elogie com
proparoxítonas. É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.
O sujeito pode ser bom, competente, talentoso,
inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico.
Da mesma forma, errar é humano. Épico mesmo é
cometer um equívoco.
Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem
que ter classe pra escapar incólume.
O que você não conhece é só desconhecido.
O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí
já é uma incógnita.
Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao
âmago.
O desejo de ser proparoxítona é tão atávico que
mesmo os vocábulos mais ordinários têm o privilégio (efêmero) de pertencer a
essa família – ou não seriam chamados de oxítonas e paroxítonas. Não é o
cúmulo?
Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones). Com autoria atribuída a Eduardo Affonso.
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