Por Vladimir Spinelli Chagas (*)
Não sei precisar o ano, mas as imagens ficaram
vívidas em minha memória como se fossem recentes. Fui apresentado a Goret
Chagas pelo amigo comum, Xyco Theophilo, em um evento de Inovação em Fortaleza.
Trocamos algumas palavras, fiquei sabendo que Goret, com atrofia nos braços,
usava a boca e os pés para pintar seus quadros. Por ser uma Chagas, chamei-a de
prima e assim nos tratamos até hoje. Naquele mesmo dia, fui presenteado com um
dos seus belos quadros.
Estive depois com ela em um projeto da Pró-reitoria
de Extensão da Uece, onde ministrou palestra e fez demonstração de sua arte, ou
quando expôs em um hotel local, e ainda em visitas quando de suas anuais
passagens por Fortaleza, estreitando a amizade. Ao escrever o livro "Ela,
a Lua e outras cirandas - uma prosa poética", fiz menção especial a Goret,
como fonte de inspiração, ao lado de outra prima, esta consanguínea, Nairzinha
Spinelli, uma das maiores autoridades em ciranda do Brasil.
A história de Goret merece atenção. Nascida
tetraplégica, não foi uma criança triste, porque interiormente dinâmica e
feliz. Adorava desenhar com os pés e tinha uma cabeça pululando de ideias. Seus
pais a criaram sem cuidados exagerados, incutindo-lhe o amor pela vida. Outras
pessoas, como sua primeira professora, tiveram papel fundamental, melhorando o
ambiente para minimizar os efeitos da sua tetraplegia.
Aos cinco anos, mesmo com fortes dores nas pernas
paralisadas, embirrou que queria participar da Procissão do Divino Espírito
Santo em sua Delfinópolis (MG). E foi. Nos braços, mas estava ali. De repente,
fez uma nova exigência. Quis ir para o chão. Para total surpresa, começou então
a andar, numa recuperação inesperada, embora permanecendo com a atrofia dos
braços.
Desde pequenina, Goret escolheu viver e vem se
adaptando às circunstâncias. Não encontrou empecilhos para pintar e escrever.
Pelo contrário, teve ímpeto e força para se tornar a destacada artista de hoje,
com quadros premiados mundo afora, como palestrante motivacional e como exemplo
de superação para tantos quantos precisam olhar para o que têm e disso fazerem
o melhor uso.
(*) Professor
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/12/21. Opinião, p.20.
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