Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
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as médicas têm maior taxa de mortalidade por autocídio do que os seus colegas
do sexo masculino, embora os casos de suicídio sempre tenham sido mais prevalentes
nessa área profissional, quando comparados à população denominada de Educação
Superior…
As médicas têm maior taxa de mortalidade por
suicídio do que os médicos. A promoção “Setembro
Amarelo” é um alerta para todos quanto à
prevenção do suicídio. O aviso é para que cada um de nós passe a ouvir/
dialogar com mais empatia com pessoas de todos os ofícios. Sim, porque, por
ironia, nesta era da comunicação estamos cada vez mais apartados, já mesmo
antes dessa ‘quarentena pandêmica’.
Um dos poucos fatos mencionados neste tal
mês de setembro agora colorido de amarelo é o de que as médicas têm maior taxa
de mortalidade por autocídio do que os seus colegas do sexo masculino, embora
os casos de suicídio sempre tenham sido mais prevalentes nessa área profissional,
quando comparados à população denominada de Educação Superior.
O fato não é novo. Desde 1980 as taxas de
mortalidade por suicídio têm sido mais altas entre as médicas e mais baixas
entre os médicos, segundo demonstram os resultados de revisões sistemáticas das
mais diversas pesquisas clínicas realizadas por publicações médicas. Se
computadas as ocorrências de “automutilação” como aviso/sinal/ do autocídio, a
cifra de prenúncios do suicídio é ainda maior.
Estimativas precisas das verdadeiras taxas
de suicídio entre médicas podem ainda escassear ou carecer de notificação, seja
por subnotificação ou preconceito, mas as consequências são amplas, pois a
saúde mental passou a ser o fator mais importante e prevalente na Saúde
Coletiva, principalmente após os endeusados avanços tecnológicos. Assim, o
aumento das patologias ditas psicossomáticas, justo neste momento de crise
(Covid-19), assoalha, mostra, grita, demonstra o que foi ou estava camuflado,
escondido da vista da maioria.
O suicídio avulta de importância em relação
a outras causas de mortalidade entre médicos. Portanto, as pesquisas sobre as
características de suicídio médico devem ser direcionadas à definição de
políticas de proteção a esses profissionais.
A Medicina é uma ciência da incerteza e uma
arte da probabilidade, dizia o Dr. William Osler (1849-1919), médico
canadense considerado o pai da Medicina Moderna. A incerteza leva à insegurança
da profissão médica, o que é altamente estressante. Como veterano professor de
medicina, digo:
– Médico, não se esqueça de cuidar de você
mesmo! Sobretudo da sua saúde mental.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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