Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
… 76%
dos entrevistados concordaram fortemente ou até certo ponto quanto à influência
do racismo sistêmico sobre a saúde mental dos americanos, especialmente a saúde
mental das pessoas de cor. Além disso, 83% dos americanos negros, 78% dos
americanos latinos ou hispânicos e 74% dos brancos concordaram com esta
afirmação: O preconceito racial aumenta a ansiedade.
As injustiças
raciais são parte das causas da sensação de ansiedade e podem ainda
incrementá-la.
Em pleno século
XXI existem milhares de pessoas morrendo de fome ou vivendo em situação de
miséria absoluta. No momento atual parece que a discriminação se restringe aos
descendentes de escravos oriundos da África que, no Brasil, fazem parte das
etnias “pouco midiáticas”, conceito que tenta esconder o preconceito presente,
camuflado, ou ainda por ser politicamente incorreto mencionar preconceitos.
As estatísticas no
nosso país são precárias e confundem preconceito social com camadas de baixa
renda, tentando como sempre dissimulá-lo, a ponto de alguns dos nossos
sociólogos hipocritamente inventarem a expressão “escravidão branda” quando comparada ao tratamento
dado aos escravos nos Estados Unidos.
A mídia global
explora os acontecimentos do verão no hemisfério norte, mencionando o
assassinato de negros americanos pela polícia, as disparidades na saúde, os
protestos e conversas em torno do racismo sistêmico. As estatísticas daquele
país mostram que 76% dos entrevistados concordaram fortemente ou até certo
ponto quanto à influência do racismo sistêmico sobre a saúde mental dos
americanos, especialmente a saúde mental das pessoas de cor. Além disso, 83%
dos americanos negros, 78% dos americanos latinos ou hispânicos e 74% dos
brancos concordaram com esta afirmação: O preconceito racial aumenta a ansiedade.
Mais da metade de
todos os entrevistados citaram o racismo sistêmico como algo que afeta
fortemente, ou de alguma forma, sua própria saúde mental. Declararam esse
distúrbio mental 68% dos negros americanos, 65% dos latinos ou
hispano-americanos, 56% dos descendentes asiáticos e 51% dos brancos
caucasoides. Entre todos os entrevistados, 57% disseram que a forma atual de
aplicação das leis afetou fortemente ou de alguma forma sua saúde mental.
“O impacto das desigualdades na
saúde mental da comunidade negra é de longo alcance, e cada um de nós, como
psiquiatras, tem um papel vital a exercer no enfrentamento dessas questões. Em
um nível básico, devemos continuar a nos esforçar para diversificar nossas
afirmações”,
afirma Jeffrey Geller, atual presidente da APA (American
Psychiatric Association). Traduzo para o português falado no Brasil
palavras ditas por ele em inglês:
“É normal se sentir assim em tempos
de estresse e muitas pessoas enfrentarão esta ansiedade com consequências
graves para a saúde mental. Por outro lado, na medida em que a comunidade negra
continua a sofrer desproporcionalmente com a COVID-19, os efeitos adicionais do
racismo e do trauma racial em curso estão causando um impacto significativo na
sua saúde física e mental”.
Em 2020 os
esquerdistas já não negam diretamente o Holocausto. Eles questionam ativamente
o número de judeus que morreram e dizem que os judeus não são melhores que os
nazistas, devido ao que os israelenses estão causando aos palestinos. Eles
também acreditam que nós, imagina, falamos demais sobre isso e que o genocídio
de seis milhões não foi pior que qualquer outra forma histórica de racismo – o
que, é claro, também era imperdoável. E alguns antissemitas de esquerda
compartilham simpatia com uma forma particular de fascismo – eles simplesmente
se disfarçam de anti-israelenses. O ódio obsessivo contra o conhecimento tem
uma história que remonta a vários milênios. E continua se aperfeiçoando cada
vez mais.
O antijudaísmo foi
– e é – a marca natural da direita e episodicamente da esquerda que se desandou
antijudaica após o Holocausto (1945). Hoje, o antissemitismo institucional é
preponderantemente uma questão muçulmana.
O interessante é
que uma pesquisa realizada em 2003 revela que os europeus achavam ser o Estado
de Israel a maior ameaça à paz mundial.
Vale salientar que
um preconceito, mesmo não sendo explicável, leva a outro, como uma comorbidade
psicológica ou como um complexo de discriminação irracional.
As perturbações
psicológicas e toda a psicopatologia conduzem a uma lógica incompreensível. A
combinação de movimentos propicia várias reflexões sobre a insegurança futura
das três maiores comunidades judaicas, sem falar nos países periféricos.
Israel enfrenta
perigo extremo, rodeado como está por inimigos. Na Alemanha nazista essa
perspectiva culminou nos campos de extermínio. Israel pode terminar em uma
chuva de bombas nucleares caindo sobre o país, confirmando a posição do Irã (o
único vizinho que fala a verdade) que declara publicamente as suas intenções de
varrer Israel do mapa. Isso poderia resultar em um segundo Holocausto, ainda
maior em número de mortos.
Talvez a mídia
europeia e mundial esconda que os remanescentes dos judeus europeus não têm
futuro naquele continente. Um êxodo pode acontecer num futuro próximo,
reproduzindo o êxodo pós II Guerra Mundial, à semelhança da fuga de judeus dos
países muçulmanos, onde a população judaica era de cerca de um milhão (1948) e
passou em 2013 para menos de 60.000.
Nos Estados
Unidos, que vive os mais dourados anos do judaísmo, mais brilhantes do que os
ocorridos na Andaluzia, Aragon, Alemanha, Hungria, Lituânia e Praga, essa
situação pode desmoronar agora, após a fracassada primavera Árabe, uma
expressão criada para designar a onda de protestos que marcou os países árabes
a partir do final do ano de 2010.Os judeus americanos tiveram o luxo relativo
de se preocupar com assuntos como casamentos mistos, correligionários ao redor
do mundo, orações escolares e aborto; se as tendências atuais continuarem, eles
se encontrarão cada vez mais preocupados com segurança pessoal, marginalização
e os outros sintomas presentes hoje mais intensamente na Europa.
Caberia aos
descendentes dos judeus serem mais manifestos nas suas pretensões, enquanto o
pior não se chegar ou já chegou.
O que ocorreu na
França está acontecendo em outros países do continente europeu e na América
Latina. Seria pertinente mencionar que o conflito na Faixa de Gaza acordou o
fantasma do antissemitismo, que estava aparentemente adormecido na Europa desde
a Segunda Guerra Mundial.
Embora essa
tendência seja mais fraca na América Latina, os governos de alguns países, como
Chile e Brasil, expressaram sua insatisfação com as ações de Israel contra o
Hamas. O governo de Cuba acusou Israel de genocídio e outros países de governos
populistas, como a Venezuela, responsabilizaram publicamente Israel pela guerra
em Gaza.
Quanto aos
americanos do Norte, eles estão ficando mais ansiosos agora em comparação com o
ano passado, de acordo com os resultados da pesquisa divulgados a pouco tempo
pela American Psychiatric Association (https://www.healio.com/news/psychiatry/20201021/apa-poll-shows-62-of-americans-more-anxious-now-vs-this-time-last-year?utm_source=selligent&utm_medium=email&utm_campaign=news&m_bt=37927661302340
(consultado em 24/10/2020).
E no Brasil será
que o mesmo está acontecendo com as populações de cor negra, mulata, ou mesmo
com a maioria populacional miscigenada?
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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