quinta-feira, 17 de março de 2022

AUMENTO DA ANSIEDADE EM CONSEQUÊNCIA DO RACISMO (racismo de cor e de origem)

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

… 76% dos entrevistados concordaram fortemente ou até certo ponto quanto à influência do racismo sistêmico sobre a saúde mental dos americanos, especialmente a saúde mental das pessoas de cor. Além disso, 83% dos americanos negros, 78% dos americanos latinos ou hispânicos e 74% dos brancos concordaram com esta afirmação: O preconceito racial aumenta a ansiedade.

As injustiças raciais são parte das causas da sensação de ansiedade e podem ainda incrementá-la.

Em pleno século XXI existem milhares de pessoas morrendo de fome ou vivendo em situação de miséria absoluta. No momento atual parece que a discriminação se restringe aos descendentes de escravos oriundos da África que, no Brasil, fazem parte das etnias “pouco midiáticas”, conceito que tenta esconder o preconceito presente, camuflado, ou ainda por ser politicamente incorreto mencionar preconceitos.

As estatísticas no nosso país são precárias e confundem preconceito social com camadas de baixa renda, tentando como sempre dissimulá-lo, a ponto de alguns dos nossos sociólogos hipocritamente inventarem a expressão “escravidão branda quando comparada ao tratamento dado aos escravos nos Estados Unidos.

A mídia global explora os acontecimentos do verão no hemisfério norte, mencionando o assassinato de negros americanos pela polícia, as disparidades na saúde, os protestos e conversas em torno do racismo sistêmico. As estatísticas daquele país mostram que 76% dos entrevistados concordaram fortemente ou até certo ponto quanto à influência do racismo sistêmico sobre a saúde mental dos americanos, especialmente a saúde mental das pessoas de cor. Além disso, 83% dos americanos negros, 78% dos americanos latinos ou hispânicos e 74% dos brancos concordaram com esta afirmação: O preconceito racial aumenta a ansiedade.

Mais da metade de todos os entrevistados citaram o racismo sistêmico como algo que afeta fortemente, ou de alguma forma, sua própria saúde mental. Declararam esse distúrbio mental 68% dos negros americanos, 65% dos latinos ou hispano-americanos, 56% dos descendentes asiáticos e 51% dos brancos caucasoides. Entre todos os entrevistados, 57% disseram que a forma atual de aplicação das leis afetou fortemente ou de alguma forma sua saúde mental.

O impacto das desigualdades na saúde mental da comunidade negra é de longo alcance, e cada um de nós, como psiquiatras, tem um papel vital a exercer no enfrentamento dessas questões. Em um nível básico, devemos continuar a nos esforçar para diversificar nossas afirmações”, afirma Jeffrey Geller, atual presidente da APA (American Psychiatric Association). Traduzo para o português falado no Brasil palavras ditas por ele em inglês:

É normal se sentir assim em tempos de estresse e muitas pessoas enfrentarão esta ansiedade com consequências graves para a saúde mental. Por outro lado, na medida em que a comunidade negra continua a sofrer desproporcionalmente com a COVID-19, os efeitos adicionais do racismo e do trauma racial em curso estão causando um impacto significativo na sua saúde física e mental”.

Em 2020 os esquerdistas já não negam diretamente o Holocausto. Eles questionam ativamente o número de judeus que morreram e dizem que os judeus não são melhores que os nazistas, devido ao que os israelenses estão causando aos palestinos. Eles também acreditam que nós, imagina, falamos demais sobre isso e que o genocídio de seis milhões não foi pior que qualquer outra forma histórica de racismo – o que, é claro, também era imperdoável. E alguns antissemitas de esquerda compartilham simpatia com uma forma particular de fascismo – eles simplesmente se disfarçam de anti-israelenses. O ódio obsessivo contra o conhecimento tem uma história que remonta a vários milênios. E continua se aperfeiçoando cada vez mais.

O antijudaísmo foi – e é – a marca natural da direita e episodicamente da esquerda que se desandou antijudaica após o Holocausto (1945). Hoje, o antissemitismo institucional é preponderantemente uma questão muçulmana.

O interessante é que uma pesquisa realizada em 2003 revela que os europeus achavam ser o Estado de Israel a maior ameaça à paz mundial.

Vale salientar que um preconceito, mesmo não sendo explicável, leva a outro, como uma comorbidade psicológica ou como um complexo de discriminação irracional.

As perturbações psicológicas e toda a psicopatologia conduzem a uma lógica incompreensível. A combinação de movimentos propicia várias reflexões sobre a insegurança futura das três maiores comunidades judaicas, sem falar nos países periféricos.

Israel enfrenta perigo extremo, rodeado como está por inimigos. Na Alemanha nazista essa perspectiva culminou nos campos de extermínio. Israel pode terminar em uma chuva de bombas nucleares caindo sobre o país, confirmando a posição do Irã (o único vizinho que fala a verdade) que declara publicamente as suas intenções de varrer Israel do mapa. Isso poderia resultar em um segundo Holocausto, ainda maior em número de mortos.

Talvez a mídia europeia e mundial esconda que os remanescentes dos judeus europeus não têm futuro naquele continente. Um êxodo pode acontecer num futuro próximo, reproduzindo o êxodo pós II Guerra Mundial, à semelhança da fuga de judeus dos países muçulmanos, onde a população judaica era de cerca de um milhão (1948) e passou em 2013 para menos de 60.000.

Nos Estados Unidos, que vive os mais dourados anos do judaísmo, mais brilhantes do que os ocorridos na Andaluzia, Aragon, Alemanha, Hungria, Lituânia e Praga, essa situação pode desmoronar agora, após a fracassada primavera Árabe, uma expressão criada para designar a onda de protestos que marcou os países árabes a partir do final do ano de 2010.Os judeus americanos tiveram o luxo relativo de se preocupar com assuntos como casamentos mistos, correligionários ao redor do mundo, orações escolares e aborto; se as tendências atuais continuarem, eles se encontrarão cada vez mais preocupados com segurança pessoal, marginalização e os outros sintomas presentes hoje mais intensamente na Europa.

Caberia aos descendentes dos judeus serem mais manifestos nas suas pretensões, enquanto o pior não se chegar ou já chegou.

O que ocorreu na França está acontecendo em outros países do continente europeu e na América Latina. Seria pertinente mencionar que o conflito na Faixa de Gaza acordou o fantasma do antissemitismo, que estava aparentemente adormecido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Embora essa tendência seja mais fraca na América Latina, os governos de alguns países, como Chile e Brasil, expressaram sua insatisfação com as ações de Israel contra o Hamas. O governo de Cuba acusou Israel de genocídio e outros países de governos populistas, como a Venezuela, responsabilizaram publicamente Israel pela guerra em Gaza.

Quanto aos americanos do Norte, eles estão ficando mais ansiosos agora em comparação com o ano passado, de acordo com os resultados da pesquisa divulgados a pouco tempo pela American Psychiatric Association (https://www.healio.com/news/psychiatry/20201021/apa-poll-shows-62-of-americans-more-anxious-now-vs-this-time-last-year?utm_source=selligent&utm_medium=email&utm_campaign=news&m_bt=37927661302340 (consultado em 24/10/2020).

E no Brasil será que o mesmo está acontecendo com as populações de cor negra, mulata, ou mesmo com a maioria populacional miscigenada?

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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