Há três sistemas ortográficos para se escrever os vocábulos do
nosso idioma. O sistema fonético que consiste na exata figuração dos sons,
escrevendo as palavras como se pronunciam, a exemplo de “esgoto”. O sistema
etimológico que representa a escrita das palavras de acordo com a grafia de
origem, tal qual “exgotto”. O
terceiro sistema ortográfico é o misto, que combina os dois primeiros.
Um saudoso poeta amigo meu, que dominava o étimo das palavras,
tratava-as com liberdade, sem perder, contudo, o encanto com o léxico. Gostava
de brincar com os vocábulos, deliciava-se com a sonoridade dos fonemas, criava
neologismos. Era poeta! Certa vez, contou-me que a filha Ana Luiza, quando
criança, perguntara-lhe: “Pai, ‘ambos’ quer dizer dois, não é?!” “Exatamente,
minha filha” – respondeu o pai. “Então, três quer dizer ‘trambos’ ” – concluiu a menininha sabida. “Perfeitamente, minha
filha!” – e contava essa história se deleitando de felicidade, enquanto
caminhávamos na Praça das Flores. A gente logo lhe percebia o bom humor,
manifestado pelo seu discretíssimo sorriso.
Pois bem, à guisa de entretenimento, certo dia desafiou-me que
produzisse um texto com o emprego de vocábulos escritos consoante o sistema
etimológico, que fora abolido com a reforma ortográfica de 1943. Infelizmente,
ele não chegou a ler “O esculptor”.
O esculptor
Para
o poeta PHS Leão
Haghora vou
contar uma história que é mais uma anecdota.
Tracta-se de um esculptor de edade avançanda com tosse. Ele garantiu
que não sofria de phthisica, que a
tosse era da asthma. Andou septe chilometros para chegar à egreja,
o logar da obra.
Ele frequentara a eschola
da própria egreja até os 10 anos de edade. Tinha dificuldades de aprender os
diphthongos. Mas, os monophthongos lhe pareciam fáceis. Gostava
das aulas das quintas-feiras porque havia catechismo,
onde aprendeu o significado da palavra charidade.
Adotou como sancto de devoção o auctor da Suma, Santo Tomás de Aquino.
Diz que amadureceu seu character lendo
a Suma Teológica e as chartas do sancto.
No adro da egreja ele
fez a esculptura do Padre Cícero. Quando
chegou no poncto de lhe colocar a
bengala na mão, a falta de practica fê-lo
romper a chorda que suspendia o
pesado cajado. Este tinha o tammanho
do pescoço de uma girafa. Tractou de
resolver o problema. Coisa egual jamais
lhe tinha acontecido. Lamentava consigo mesmo. Mas, considerava-se exempto de culpa.
A bengala ao cair mactou
um rato que acabara de sair do exgotto.
O idoso com phleugma olhou para o
rato sem prancto. Ele tinha schisma com o dicto animal desde menino.
O perseverante auctor
de edade avançada inceptou numa schedula um novo projeto para confeccionar a bengala. Comprou uma espathula para preparar o gesso. Tinha
consciência que o trabalho lhe estava saindo muito charo.
Antes de reiniciar a confecção da bengala, deu uma mirada nos scirros, e viu uma scentelha. Logo começou a relampejar. Ele se lembrou da
recomendação da sciência, e logo procurou
se proteger dos raios sob um tecto.
Então, entrou na egreja, rezou o psalmo, e deu por concluído o officio.
Fevereiro/2022
Sebastião
Diógenes Pinheiro
Da Academia Quixadaense de Letras
Da Academia Cearense de Medicina e da Sobrames/CE
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