Os professores Newton
Gonçalves e Haroldo Juaçaba, acompanhados de suas respectivas consortes, foram
a um congresso de cirurgia em um país escandinavo, e aproveitaram a
oportunidade para conhecer a Lapônia, região situada no extremo norte, mais
precisamente no Polo Norte. Essa é, simbolicamente, a terra de Saint Klaus, e
não apenas o território dos lapões, daí o interesse em chegar até onde vive o
imaginário Papai Noel.
Os dois casais foram
jantar em um restaurante típico da Lapônia. O Prof. Newton, um pouco mais
afoito, quis experimentar um prato mais exótico, para os padrões tropicais, e
solicitou uma suposta iguaria, um prato feito com carne de rena, considerando
que aquela seria uma oportunidade ímpar, para conhecer o sabor que tinha a
carne desse grande cervídeo, ali apresentado como “pièce de resistence”.
Nenhum dos seus
companheiros de viagem aceitou compartilhar do inusitado repasto, fazendo com
que o Prof. Newton comesse sozinho a refeição por ele solicitada. Mas o
resultado final do “lauto banquete” foi deveras desanimador para o solitário
comensal, que ficou obrigado a permanecer recolhido no hotel, durante um dia,
acometido de profusa diarreia e intensas cólicas intestinais, que solaparam os
bons passeios que poderiam ter feito naquela fria região.
É até provável que o
quadro de intoxicação alimentar possa ter sido uma “vindetta” do Santa Claus,
pela ousadia que o acarauense tivera de ingerir a carne de um animal tão
prestativo e que, chegado o Natal, cruza os quatro cantos do mundo para levar
os presentes do bom velhinho às crianças ansiosas e crédulas de que serão
recompensadas pelo bom comportamento dos últimos dias.
Daí para a frente,
por certo, nunca mais o Dr. Newton quis saber de renas. Para ele, já era
bastante vê-las nos cartões natalinos, puxando o trenó do Papai Noel.
*
Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e
de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011. 112p. p.95-96.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. A vingança de Saint Klaus. In: SOBRAMES – CEARÁ. Sopro de luz. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2020. 364p. p. 242-243.
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