Por Fábio Marton, jornalista.
Documentos revelados por
historiador mostram como o Supremo Comando descumpriu ordens de Washington que
poderiam ter poupado a vida de dezenas de milhares
Ao cair das cortinas da Segunda Guerra, em algum
ponto entre fevereiro e março de 1945, aos 15 anos, Anne Frank morreu de tifo
no campo de Belsen-Bergen. Seu diário, publicado por seu pai, tornou-a uma das
mais simbólicas vítimas do Holocausto.
Tudo poderia ser diferente — e talvez ela
estivesse viva até hoje, aos 88, possivelmente anônima — se os aliados tivessem
seguido as ordens de Washington e colaborado com um esforço da Cruz Vermelha
para enviar uma missão de socorro com medicamentos e alimentos para
o campo no qual ela estava presa.
A revelação veio do
historiador Max Wallace em seu novo livro In the Name of
Humanity: The Secret Deal to End the Holocaust ("Em Nome da
Humanidade: O Acordo Secreto para Encerrar o Holocausto", ainda sem
tradução). Wallace descobriu documentos inéditos e reconstruiu uma história até
agora desconhecida.
A SS nazista e a Cruz Vermelha haviam
chegado num acordo para permitir a passagens de caminhões com suprimentos para
aliviar a situação em certos campos de concentração.
Berger-Belsen, o alvo principal, não era um
campo de extermínio com Auschwitz: não tinha câmaras de gás. Quando os
nazistas queriam matar alguém por lá, transferiram para os outros
campos. Ainda assim, cerca de 50 mil de seus prisioneiros morreram por
fome, doenças ou exaustão por trabalhos forçados. Ao ser liberado pelos
aliados, em 15 de abril de 1945, o complexo, feito para abrigar 10 mil
pessoas, tinha 60 mil — e mais 13 mil corpos insepultos, incluindo Anne e sua
irmã Margot
Em fevereiro, a situação catastrófica de
Berger-Belsen foi levada à Washington e estudada por várias autoridades,
inclusive o secretário de guerra Henry Stimson. De lá saiu a ordem para a
liberação imediata da ajuda.
Mas o Comando Central, liderado pelo general (e
futuro presidente) Dwight Eisenhower, simplesmente se recusou os liberar
veículos e gasolina combinados, exceto para missões direcionadas a campos com
prisioneiros de guerra americanos — uma decisão cinicamente calculada,
pensando no impacto na opinião pública de negligenciar “nossos
garotos” versus “judeus desconhecidos”.
“A culpa final por qualquer morte em campos de
concentraçao recai sobre os nazistas, cujas políticas desprezíveis colocou os
prisioneiros lá”, afirma Wallace. “Mas a tragédia de Bergen-Belsen ilustra como,
mesmo naquele estágio final da guerra, o destino dos judeus europeus não tinha
quase qualquer efeito sobre a consciência dos líderes aliados.”
Fonte: UOL. Publicado em 18/04/2018. Atualizado em 20/04/2018.
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