Depois de aposentado,
o Prof. Newton Gonçalves não perdeu o hábito diário de, após o café matinal,
arrumar-se, impecavelmente, de paletó e gravata, como se fosse para a
universidade, ou estivesse esperando visitas já agendadas. Na verdade, ele
andava apenas uns poucos passos para ficar no seu aconchegante gabinete,
repleto de estantes de livros valiosos, sendo alguns de notável valor
estimativo, onde se comprazia, por horas a fio, com a prazerosa leitura de suas
preciosas obras, não se dando conta da marcha do tempo. No turno vespertino,
essa prática prosseguia, deixando-o absorto, imerso em tantas leituras.
Nas imediações de sua
casa havia uma clínica psiquiátrica, para atendimento, e até internamento, de
pacientes portadores de transtorno mental. Não raro, alguns desses pacientes,
possivelmente por efeito-demonstração de um primeiro visitante ter sido bem
acolhido por esse gentil-homem, passaram a bater em sua porta, para trocar um
dedo de prosa com o Prof. Newton. A bem da verdade, eles sempre foram recebidos
pelo anfitrião, com urbanidade e polidez, traços tão caros ao insigne mestre. É
o caso de se dizer: “quem foi rei, será sempre majestade”.
*
Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e
de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011. 112p. p.97-98.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. Um “gentleman” em casa. In: SOBRAMES – CEARÁ. Sopro de luz. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2020. 364p. p. 245.
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