Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Todo país que se preza enaltece
os seus velhos. Assim foi e continua sendo, desde os primórdios da civilização.
O que assisto agora é que os
jovens não aceitam mais os conselhos dos idosos. Refiro-me aos jovens e aos
adultos igualmente e advirto ser a consideração com o próximo coisa rara neste
contemporâneo. No caso dos jovens, trata-se de uma verdadeira contestação
inter-geracional.
Explanações socioeconômicas não
são suficientes para explicar o desamparo/desprezo dirigido à geração
precedente.
Os avanços tecnológicos tornam
tudo isso mais avassalador neste embate desrespeitoso. Repito —
inter-geracional.
Tais avanços ofertaram aos
jovens a oportunidade de se tornarem desrespeitosos para com as gerações
anteriores, na ilusão de que apenas o que é novo é certo. Porém sei também que
muitos idosos de hoje, que vivem mais e têm mais experiência, em lugar de
exercerem a sua função apreendida pela angústia vital, preferem tentar
disfarçar a idade, seja por cirurgias plásticas ou outras camuflagens e
embustes. Submetem-se a disputar com a juventude o papel (aparência) que não
mais lhes pertence, tornando-se prezas fáceis dos que oferecem panaceias para
que pareçam sempre mais novos do que são. Bastaria dizer que já existe uma
especialidade médica dedicada ao aumento da longevidade denominada Geriatria.
Uma espécie de Pediatria para idosos.
O resultado aí está. Idosos
perdem a deferência e o respeito das crianças, jovens e adultos. A juventude
inebriada, por sua vez, julga que só o que é novo é bom, pois a experiência
ainda está para ser adquirida por este grupo etário. E como o passado não lhes
importa, julgam-se os donos da verdade. Resultado: os mais velhos são
esquecidos como sucata da vida privada ou pública. Pertinente será lembrar uma
historieta bíblica.
O Velho Testamento ensina que o
rei Davi, antes de ser rei, era um pastor de ovelhas e, dizem, bastante
competente. Suas ovelhas eram as mais bonitas da região. Sabem porquê? Pela
maneira como as alimentava.
Separava a ração que oferecia:
o primeiro grupo comia as folhas mais tenras; a parte de cima do capim mais
novo era para as ovelhas mais velhas. Depois vinham as crianças, digo os
cordeirinhos, e por último os jovens e sadios pois necessitavam e tiravam
melhor proveito da parte endurecida da ração, formando uma juventude mais bem
treinada para os embates da vida.
Agora, quando se toma qualquer
medida coletiva, penaliza-se primeiro os velhos, que acham que nada sabem, não
desejam conhecer sua experiência ou sabedoria acumuladas.
Uma aldeia que não tiver seu
conselho de anciões perecerá na certa. O resto, os leitores podem deduzir.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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