Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Em 2020 os esquerdistas já não
negam diretamente o Holocausto. Eles questionam ativamente quantos judeus
morreram e dizem que os judeus não são melhores que os nazistas, devido ao que
estão fazendo aos palestinos. Eles também acreditam que nós, judeus, falamos demais
sobre isso e que o genocídio de seis milhões de judeus não foi pior que
qualquer outra forma histórica de racismo — o que, é claro, também era
imperdoável. E alguns antissemitas de esquerda compartilham simpatia com uma
forma particular de fascismo — eles simplesmente se disfarçam de
anti-israelenses. O ódio obsessivo contra os judeus tem uma história que
remonta vários milênios. E continua se aperfeiçoando cada vez mais.
O antijudaísmo foi — e é — a
marca natural da direita e episodicamente da esquerda que se desandou
antijudaica após o Holocausto (1945). Hoje, o antijudaísmo institucional é
preponderantemente uma questão muçulmana.
O interessante é que uma
pesquisa realizada em 2003 mostrou que os europeus achavam ser o Estado de
Israel a maior ameaça à paz mundial. Um preconceito, mesmo não sendo
explicável, leva a outro, como uma comorbidade psicológica ou como um complexo
de discriminação irracional. As perturbações psicológicas e toda a
psicopatologia conduzem a uma lógica incompreensível.
A combinação desses movimentos
propicia várias reflexões sobre a insegurança futuras das três maiores
comunidades judaicas, sem falar nos países periféricos. Israel enfrenta perigo
extremo, rodeado como está por inimigos. Na Alemanha nazista essa perspectiva
culminou nos campos de extermínio para seis milhões de judeus. Israel pode
terminar em uma chuva de bombas nucleares caindo sobre o país, confirmando a
posição do Irã (o único vizinho que fala a verdade) que declara publicamente as
suas intenções de varrer Israel do mapa. Isso poderia resultar em um segundo
Holocausto, ainda maior em número.
Talvez a mídia europeia e
mundial esconda que os remanescentes dos judeus europeus não têm futuro naquele
continente. Um êxodo pode acontecer num futuro próximo, reproduzindo o êxodo
pós II Guerra Mundial, à semelhança da fuga de judeus dos países muçulmanos,
onde a população judaica era de cerca de um milhão (1948) e passou em 2013 para
menos de 60.000. Nos Estados Unidos, que vive os mais dourados anos do
judaísmo, mais brilhantes do que os ocorridos na Andaluzia, Aragon, Alemanha,
Hungria, Lituânia e Praga pode desmoronar agora após a fracassada Primavera
Árabe, uma expressão criada para designar a onda de protestos que marcou os
países árabes a partir do final do ano de 2010.
Os judeus americanos tiveram o
luxo relativo de se preocupar com assuntos como casamentos mistos,
correligionários ao redor do mundo, orações escolares e aborto; se as
tendências atuais continuarem, eles se encontrarão cada vez mais preocupados
com segurança pessoal, marginalização e os outros sintomas presente mais
intensamente na Europa. Caberia aos descendentes dos judeus serem mais
manifestos nas suas pretensões, enquanto o pior não se chegar se já não chegou.
Stálin perguntava cinicamente:
quantas divisões tem o Papa? O que ocorreu na França está acontecendo em outros
países do continente europeu e na América Latina. Seria pertinente mencionar
que conflito na Faixa de Gaza acordou o fantasma do antissemitismo, que estava
aparentemente adormecido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Embora essa
tendência seja mais fraca na América Latina, os governos de alguns países, como
Chile e Brasil, expressaram sua insatisfação com as ações de Israel contra o
Hamas. O governo de Cuba acusou Israel de genocídio e outros países de governos
populistas, como a Venezuela responsabilizou publicamente Israel pelos
acontecimentos em Gaza, fato que encobriu as notícias sobre a pandemia da
coronavírus, vacinas, implicações políticas e tantos outros acontecimentos
contemporâneos.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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