Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
De quando em vez surpreendo-me com certas
coisas que já sei. Desta vez foi com a pesquisa de julho de 2018 da Justiça
Eleitoral que indica ter-se atingido 147,3 milhões de eleitores distribuídos
pelos 5.570 municípios do país, bem como em 171 localidades de 110 países no
exterior. As informações sobre o eleitorado dizem respeito aos cidadãos
brasileiros aptos a votar no pleito daquele ano no segundo turno para
presidente da República ou governadores estaduais. Outros 1.409.774 eleitores
não podem votar nem se candidatar nesse ano, por estarem com os direitos
políticos suspensos. O Brasil tinha 16.294.889 analfabetos nessa
faixa etária em 2000, sendo esse número reduzido para 13.933.173 em 2010; desse
total, 39,2% dos analfabetos eram idosos. O IBGE identificou que a maior
proporção de pessoas analfabetas se encontrava nos municípios com até 5 0 mil
habitantes na região Nordeste do país. Sobre o nível da escolaridade do eleitor
brasileiro: do total de votantes, 5,9% são analfabetos, 35% informaram saber
ler e escrever, mas a maioria não concluiu o primeiro grau escolar, o que
significa que não frequentaram escola e provavelmente não sabem interpretara
textos.
Apesar de
concordar com a ideia de que o processo democrático é algo dinâmico e em
constante aperfeiçoamento, enquanto os regimes ditatoriais são estáticos e
donos de uma verdade que é a do ditador, acredito no que ensina o sociólogo
alemão Max Weber (1864 – 1920): “A Democracia é a melhor forma de governo,
porém possui seu calcanhar de Aquiles. É o seu colégio eleitoral”. Continuo.
O voto de
curral era a expressão empregada para designar o sistema eleitoral onde a
eleição era manipulada pelos “Coronéis”, figuras que detinham o poder social e
político em diversas regiões do País. Não importando a forma de governo central,
Brasil Colonial, Império ou República, quem mandava e desmandava eram esses
pequenos caudilhos. O seu poder assemelhava-se ao feudo medieval, mas em lugar
de fossos e muralhas havia cercas de arame farpado para guardar seus eleitores
de cabresto… Com o advento da TV e depois da chamada era digital, pensei que
muita coisa iria mudar. Mudou sim, mais muito pouco. Isso sem falar na
disseminação das fake news. Nas grandes cidades – ou na maioria delas –
quem manda são os donos da mídia, principalmente os donos das cadeias de TV. De
um povo cuja cultura vem das novelas, dos programas de baixo nível,
desestruturado, analfabeto, o que se poderá esperar como resultado eleitoral?
Olhando de
determinado ângulo esse tal progresso tecnológico, tenho cá minhas dúvidas
sobre se é mesmo um progresso. Quem sabe com esses esclarecimentos, venhamos a
fazer escolhas piores do que as que fazíamos antes. Não há mais barreira física
contra a informação: onda de rádio, sinal de televisão ou onde despontam os
sinais da Internet.
A informação
penetra em todos os lugares e lares. Esboroaram-se os castelos dos nossos
antigos coronéis. E tem mais, pelo andar da carruagem, a cerca do curral e os
poderes dos coronéis estão ultrapassados, mas não deixam de existir –
subliminarmente. Agora o céu é o limite. Ou dizendo de outra maneira:
continuamos cercados pelos arames farpados do analfabetismo, agora intoxicados
pelos marqueteiros eleitoreiros.
Sem Educação e
Ensino não haverá tecnologia que consiga fazer avançar a Democracia Brasileira.
Ficamos no mesmo coronelismo, agora apenas camuflado. Que importa se a urna é
eletrônica, quando a massa eleitoral não tem escola para aprender ou se
esclarecer? Se a cabeça do votante continua desinformada e agora mais confusa.
Para concluir, confessarei uma coisa (sem saudosismo piegas). No tempo dos
coronéis era tudo mais simples e mais engraçado. Costumo dizer: sem humor, do
que vale viver? Havia todo um folclore envolvido, cujo centro era, na maioria
das vezes, o chefe político ou o dito coronel. O voto era passado das mãos do
coronel para o eleitor em cédula dobrada e quando o pobre do eleitor queria
constatar o nome em que ia votar, o chefe, o capataz ou o cabo eleitoral, ou
qualquer coisa que o valha gritava: “Pra que olhar primeiro se voc&a mp;a
mp;e circ; nem sabe ler e depois o voto é secreto. Você não sabe disso?
Seu idiota! Quer ir pro xilindró? Olha o meganha aí para te prender…”
Uma nova
tecnologia de voto auditável foi proposta por um grupo de engenheiros formados
no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), mas ainda pode ter as falhas de
tudo o que é digital. O projeto de as urnas eletrônicas imprimirem os votos
divide eleitores brasileiros e uniu uma associação sem fins lucrativos composta
por uma equipe de profissionais, cujo objetivo é oferecer novas soluções para o
sistema de votação. Termino com (Eclesiastes 1:9 NVI): O que foi
tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do
sol.
O que sei é
que se desejarem acabar com a História, matem os velhos.
“Do que valeria chegar aos 87 anos se toda a sabedoria do
mundo fosse tolice diante de Deus?”
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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