Por Tales de Sá
Cavalcante (*)
Sonhemos,
em devaneios, um município chamado Violência. Lá os jogadores de futebol não receberiam
cartões amarelos nem vermelhos, e os de basquete poderiam cometer um número
ilimitado de faltas. Se todos os técnicos estimulassem atos brutais, como
seriam os jogos? Talvez com a fúria a ganhar do gol e da cesta.
Já
o sonho do genial humorista Chico Anysio originou Chico City, que faria jus ao
apelido "cidade do riso", onde "um dia sem risada seria um dia
desperdiçado", conforme o dito de Charlie Chaplin.
E
como seria o país da paz? Nele, os treinadores exigiriam ética acima de tudo, e
iríamos às arenas não para brigar e/ou matar, mas para vibrar, a lembrar o balé
de Michael Jordan ou o baile de Pelé. Lá se invocaria o belo texto "O
direito à paz", quando Paulo Bonavides aponta: "A guerra é um crime e
a paz é um direito. (…) Quem conturbar essa paz, quem a violentar, quem a
negar, cometerá, à luz desse entendimento, crime contra a sociedade
humana".
Neste
país, os dirigentes e técnicos dos clubes não conduziriam os discípulos à
violência, senão à harmonia. O mesmo se daria nas contendas por cargos públicos,
com líderes a orientar os liderados a vencer não pela força, e sim pelo
talento. Assim, a recente tragédia de Foz do Iguaçu seria tão surpreendente
quanto o assassinato de Shinzo Abe, ex-premiê do Japão, país onde, em todo o
ano de 2021, houve apenas um óbito nos únicos 10 incidentes com armas de fogo.
Pena
que poucos chefes políticos se comportem como Kaue Araújo. Em 8/7 passado, o
gaúcho jogava com a certeza de que faria um gol em louvor à sua filha Marthina,
de 5 meses. A oportunidade surgiu. Só Kaue, o goleiro e a trave. Ao ver que o
arqueiro estava deitado a se contorcer de dor, achou que Marthina não merecia
um laurel desleal. Decidiu chutar para fora, a seguir Jorge Ben Jor: "Não
entrou com bola e tudo (…) Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de
placa". E depois Kaue declarou à repórter: "O mais importante num
jogo de futsal é ver o lado humano do teu adversário".
A
melhor opção não é esquerda nem direita. Nem 1ª nem 2ª nem 3ª via. É a única.
Para presidente, Kaue.
(*)
Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente
da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/07/22. Opinião, p.14.
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