terça-feira, 16 de agosto de 2022

NEM, NEM....

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Sonhemos, em devaneios, um município chamado Violência. Lá os jogadores de futebol não receberiam cartões amarelos nem vermelhos, e os de basquete poderiam cometer um número ilimitado de faltas. Se todos os técnicos estimulassem atos brutais, como seriam os jogos? Talvez com a fúria a ganhar do gol e da cesta.

Já o sonho do genial humorista Chico Anysio originou Chico City, que faria jus ao apelido "cidade do riso", onde "um dia sem risada seria um dia desperdiçado", conforme o dito de Charlie Chaplin.

E como seria o país da paz? Nele, os treinadores exigiriam ética acima de tudo, e iríamos às arenas não para brigar e/ou matar, mas para vibrar, a lembrar o balé de Michael Jordan ou o baile de Pelé. Lá se invocaria o belo texto "O direito à paz", quando Paulo Bonavides aponta: "A guerra é um crime e a paz é um direito. (…) Quem conturbar essa paz, quem a violentar, quem a negar, cometerá, à luz desse entendimento, crime contra a sociedade humana".

Neste país, os dirigentes e técnicos dos clubes não conduziriam os discípulos à violência, senão à harmonia. O mesmo se daria nas contendas por cargos públicos, com líderes a orientar os liderados a vencer não pela força, e sim pelo talento. Assim, a recente tragédia de Foz do Iguaçu seria tão surpreendente quanto o assassinato de Shinzo Abe, ex-premiê do Japão, país onde, em todo o ano de 2021, houve apenas um óbito nos únicos 10 incidentes com armas de fogo.

Pena que poucos chefes políticos se comportem como Kaue Araújo. Em 8/7 passado, o gaúcho jogava com a certeza de que faria um gol em louvor à sua filha Marthina, de 5 meses. A oportunidade surgiu. Só Kaue, o goleiro e a trave. Ao ver que o arqueiro estava deitado a se contorcer de dor, achou que Marthina não merecia um laurel desleal. Decidiu chutar para fora, a seguir Jorge Ben Jor: "Não entrou com bola e tudo (…) Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa". E depois Kaue declarou à repórter: "O mais importante num jogo de futsal é ver o lado humano do teu adversário".

A melhor opção não é esquerda nem direita. Nem 1ª nem 2ª nem 3ª via. É a única. Para presidente, Kaue. 

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/07/22. Opinião, p.14.

Nenhum comentário:

Postar um comentário