Ataque cardíaco de fome, a
nova mazela
Pobre
na forma da lei, foi pela caridade dos amigos que o menino mais velho do Adail
recebeu digna assistência. Do que o bichim sofria? Uma complicação descobrir.
Certo é que uma ruma de especialistas o consultou, fez horror de exames, bateu
chapa de toda qualidade, encheu-se de piula até o gogó. Apesar de tudo,
passados seis meses de peleja, chibatada de mazelas não largava dele. Sintomas
de A à Z: coceira no mucumbu respondendo no sovaco, lêndea de polegada,
"ganeira de chicote", "difluço", dor nas carnes, sapiranga
nos olhos, peido ariado, alôjo, tosse de cachorro doido, cuspe grosso, vontade
de morrer. Dor pra mais de metro, corpo inteiro.
Tal
como anotado pela jornalista e escritora Rosanni Guerra no seu memorável poema
"Amor Hipocondríaco", "... não tem Anador / Buferim ou
Neosaldina / Nem injeção de morfina / Que acabe com essa dor fina". Até
óleo diesel (injeção de benzetacil) o menino do Adail tomou. Apelou-se para
homeopata, acupunturista, terapeuta da saúde integral, rezadeira e o gemido era
o mesmo. Perturbação profunda. Nem banho de sal grosso com a baba do caçote fazia
reagir aquele corpo estoporado, banido, esfulepado, distiorado, brocado,
arrombado... Mandar pros EUA? Com que dinheiro, se nem o do Uber para levá-lo
ao posto de saúde o povo de casa tinha?
Assim,
meio sem querer, chegou-se à descoberta da macacoa descomunal que acometia o
bruguelo mais velho do Adail. Outro amigo médico do pai pediu pra ver o doente
na UPA do bairro, a uns cinco quilômetros de casa. Lá ele foi na garupa da
bicicleta, dirigida por um irmão. No trajeto, passam nas bitacas duma lanchonete
de primeira categoria, dessas que servem - já às 11 da manhã - do pastel à mão
de vaca. Eis que o menino, amarelo de sofrimento, sente no ar o cheiro da
penicilina salvadora, inolvidável vitamina C, antibiótico e corticoide vitais:
a tal da panelada. Sem detença, grita pro mano guiador, coração saindo pela
boca:
-
Para ligeiro! Taqui meu remédio!
-
Vai se automedicar, é?
-
Nem que eu me arrombe!!!
O
mais velho do Adail tomou pratada de caldo de panelada (na verdade, passou pra
dentro cinco terrinas do produto) e nunca mais uma dor na unha! Curado, benza
Deus!
Bebendo
ainda na poética de Rosanni Guerra, observo a situação d'outrora da cria do
Adail e digo resoluto que fome "É dor que lateja / Como nunca ninguém viu
/ É pancada, é hematoma / É distensão / Que não passa com Reparil... / ... uma
dor que castiga / Igual a falsidade de amiga / E só mata, como veneno de
formiga". E concluo, vendo hoje aquele meninão bonito, lindo e joiado:
coma que passa!
Pérola de Pirrinta
Era
vereador e o tratamento junto aos colegas de parlamento, em plena sessão,
lambia sempre as corriqueiras conversas de bodega, calçada, missa de sétimo
dia, pescaria, cabaré. No dia em que foi votado o novo Código de Postura do
Município, por exemplo, pediu aparte e referiu-se ao propositor da matéria nos
seguintes termos:
-
Meu peixe, caba bom, o presente instrumento que permite à Administração
Municipal exercer o controle e a fiscalização do espaço edificado que meu
patrão apresenta...
Palmas
pra Pirrinta. Ocorre que o presidente da Casa lhe lembra da obediência ao rito,
que deverá chamar o vereador de "excelentíssimo senhor" em aparte. E
Pirrinta...
-
Gente fina, minha joia, como eu dizia, a matéria em apreço assinada por meu
cumpade...
Fonte: O POVO, de 22/09/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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