Por Antônio Diego Martins Neves (*)
O SUS, em todo seu processo idealizador, nasceu da
vontade do povo, das lutas da soberania e coragem popular e do que iria muito
além do "ter saúde". Assim, como um sistema público, universal e
do Brasil, vem aos poucos sendo desmontado e seu início (o grito do povo), é
silenciado?
Não há o que escrever em belas palavras
sobre participação popular quando nos calamos, quando de fato é nosso
momento de fala. Entendendo a participação como o ato de ser efetivamente incluído
nos processos, diálogos, decisões e reformas no sistema, o SUS torna-se além de
um programa ou política, mas parte do cotidiano do povo.
O SUS pode ser comparado com a gestão do lar que a
família habita, onde há planejamento financeiro, de consumo, há
operacionalização no limpar, do cozinhar e alimentar, da reforma quando
necessário. O sistema é nossa grande casa, mas que habitam diferentes
pensamentos e ideias, culturas, crenças e regiões. Como então pedir que todos
comessem a mesma comida? Há de se escutar e executar conforme construção diária
dos pensamentos e "reunião dos moradores".
Mas, e quando de forma democrática, mas com
ilegitimidades se elegem representantes autoritários para o bairro em que esta
casa está inserida e que colocam em risco a participação do povo, especialmente
as que representam as diversidades? Baseado no atual contexto político do
Brasil, a gestão do SUS vem apontando para o desmonte de diversas políticas de
saúde, além do descrédito à ciência e ao povo.
Assim, vale retornar a 1986, quando os povos foram
as ruas e participaram de sua primeira conferência de saúde. Que legado
nos deixaram? O que falta para sairmos de nossa casa e irmos aos bairros, junto
a outros lares? Não mais como uma reforma, mas uma construção. Nossa casa SUS
(talvez em todo seu processo histórico) nunca tenha precisado tanto do nosso
fazer coletivo.
Aqui, aponta-se mais sobre dúvidas do que
afirmações. O SUS e a gestão participativa são o pensar diário na
mudança, comparado com 1986, como um método científico (o caminho) que precisa
de uma dúvida (questão de pesquisa), e uma crença em diárias melhores
(hipótese) para só assim chegar em um resultado, que espero e acredito ser
positivo a todo o país, sendo 2022 decisivo em diferentes instâncias.
(*) Enfermeiro. Mestrando em Saúde
Coletiva da Uece e presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa e Inovações
em Saúde - SOBRAPIS
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/08/2022. Opinião. p.21.
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