segunda-feira, 12 de setembro de 2022

GESTÃO PARTICIPATIVA NO SUS

Por Antônio Diego Martins Neves (*)

O SUS, em todo seu processo idealizador, nasceu da vontade do povo, das lutas da soberania e coragem popular e do que iria muito além do "ter saúde". Assim, como um sistema público, universal e do Brasil, vem aos poucos sendo desmontado e seu início (o grito do povo), é silenciado?

Não há o que escrever em belas palavras sobre participação popular quando nos calamos, quando de fato é nosso momento de fala. Entendendo a participação como o ato de ser efetivamente incluído nos processos, diálogos, decisões e reformas no sistema, o SUS torna-se além de um programa ou política, mas parte do cotidiano do povo.

O SUS pode ser comparado com a gestão do lar que a família habita, onde há planejamento financeiro, de consumo, há operacionalização no limpar, do cozinhar e alimentar, da reforma quando necessário. O sistema é nossa grande casa, mas que habitam diferentes pensamentos e ideias, culturas, crenças e regiões. Como então pedir que todos comessem a mesma comida? Há de se escutar e executar conforme construção diária dos pensamentos e "reunião dos moradores".

Mas, e quando de forma democrática, mas com ilegitimidades se elegem representantes autoritários para o bairro em que esta casa está inserida e que colocam em risco a participação do povo, especialmente as que representam as diversidades? Baseado no atual contexto político do Brasil, a gestão do SUS vem apontando para o desmonte de diversas políticas de saúde, além do descrédito à ciência e ao povo.

Assim, vale retornar a 1986, quando os povos foram as ruas e participaram de sua primeira conferência de saúde. Que legado nos deixaram? O que falta para sairmos de nossa casa e irmos aos bairros, junto a outros lares? Não mais como uma reforma, mas uma construção. Nossa casa SUS (talvez em todo seu processo histórico) nunca tenha precisado tanto do nosso fazer coletivo.

Aqui, aponta-se mais sobre dúvidas do que afirmações. O SUS e a gestão participativa são o pensar diário na mudança, comparado com 1986, como um método científico (o caminho) que precisa de uma dúvida (questão de pesquisa), e uma crença em diárias melhores (hipótese) para só assim chegar em um resultado, que espero e acredito ser positivo a todo o país, sendo 2022 decisivo em diferentes instâncias.

(*) Enfermeiro. Mestrando em Saúde Coletiva da Uece e presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa e Inovações em Saúde - SOBRAPIS

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/08/2022. Opinião. p.21.

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