Por Lara Montezuma
(*)
Série documental
"Imortais Cearenses" aborda a trajetória dos imortais da Academia
Cearense de Letras. Projeto destaca a relevância da instituição para a cultura.
A Academia
Cearense de Letras (ACL) foi fundada em agosto de 1894, mais
precisamente no dia 15, tornando-se pioneira literária no Brasil. O Palácio da
Luz, localizado no Centro de Fortaleza, foi berço para o intenso fluxo de
atividades culturais na Cidade e consagra 40 imortais - membros que ocupam
cadeiras vitalícias na instituição. Com mais de 120 anos de história, o local
já sediou a Biblioteca Pública do Ceará e guarda parte do arquivo histórico do
Estado.
A
gama de conteúdo fez com que a ACL se tornasse um dos escritórios de pesquisa
do documentarista e cineasta Roberto Bonfim. O espaço deixou de ser apenas uma
área de estudo e resultou, também, em inspiração. Após cerca de nove anos de
apuração, o profissional está em processo de finalização do projeto "Imortais Cearenses", série
documental que estreia no mês de outubro. "Fui
verificar e vi que não tinha nada nos registros audiovisuais do Ceará acerca
desses imortais. Tinham algumas entrevistas, participações em programas e
filmes, mas era algo pontual. Eu pensei em fazer algo diferente. A Academia é
imortal, mas os imortais são mortais",
sinaliza.
Impulsionado
pela ideia de mergulhar na história das pessoas que constroem as narrativas de
uma das principais entidades brasileiras, Roberto define os parâmetros para o
projeto chancelado por Lúcio Alcântara, escritor, médico, ex-governador e atual
presidente da Academia. A proposta é mostrar a trajetória profissional destes considerados imortais,
trilhando os primeiros passos na escrita e o processo de entrada na ACL. Eles
também compartilham detalhes sobre as obras e sobre o próprio órgão, focando na
função institucional. "Existe o
produto, essa série de diversos episódios, que será doado para a Academia
Cearense de Letras. Cada um tem em média 25 minutos. Claro que, em
contrapartida, todos os imortais recebem seu próprio vídeo", informa o documentarista.
A
produção foi gravada a partir de 2021 em parceria com o diretor de fotografia
Eduardo Barros, da produtora Zoom
Digital, e os planos envolvem a distribuição para a TV e plataformas
digitais, a exemplo do YouTube.
"É uma forma da gente trazer, na nossa
contemporaneidade, um outro meio de visualização e aproximação do público", argumenta. Os depoimentos de acadêmicos como os
poetas Batista de Lima e Virgílio Maia são considerados por Roberto como
"referências importantes", visto que podem influenciar novas
gerações. "Nas entrevistas a gente pode
ver como alguns são simples ao contar suas histórias. É um toque pequeno para
que um jovem possa pensar em fazer parte da primeira academia de letras do
Brasil. A gente não pode fugir disso, os imortais vão ficando mais velhos. Cadê
os novos acadêmicos? Onde estão as novas intelectualidades e referências de
arte?", indaga Roberto.
A
necessidade de incitar a cultura influenciou, inclusive, a escolha do formato
para a iniciativa. Com experiência no ramo documental, Roberto acredita que o
audiovisual pode ser uma ponte entre distintas épocas. "O audiovisual traz um impacto, agrega valor e, ao lado da
literatura e de outras linguagens, colabora com o saber. Eu digo que é um
chamariz para a informação completa que consta nos livros, uma coisa que puxa a
outra. Por isso a importância de continuar, devemos atentar para as novas
tecnologias e novos momentos",
complementa. Olhar para frente, entretanto, não significa esquecer o que ficou
para trás. O profissional, por exemplo, defende o conhecimento das tradições do
Ceará. "Temos que ter apego com a nossa
história. Nossa preocupação é que a gente possa deixar pessoas que se interessem
pela sua própria história, que sempre começa dentro de casa. Esse projeto traz
a perpetuação desses imortais enquanto estão vivos no nosso presente. É uma
parceria muito legal porque abre margens para que a gente produza outros trabalhos documentais acerca de
outros projetos da Academia".
Uma
das imortais presentes na série documental é a promotora Grecianny
Carvalho Cordeiro, ocupante da cadeira nº 8, deixada pelo poeta Horácio Dídimo.
A formação jurídica não a impediu de enveredar pelos textos desde a
adolescência, sendo a literatura sua "grande
paixão". Os escritos de Grecianny
transitam entre o romance, a poesia e os contos. "Em 2018 surgiu a oportunidade de me candidatar a uma vaga
na ACL, concorrendo com dois candidatos e logrei êxito. Tomei posse em 2019 e
representou um grande momento em minha vida, por ingressar na academia
literária mais antiga do País", relembra.
Ela
também é diretora de comunicação da ACL e conta que, ainda no comando de Ângela
Gutiérrez, se tornou uma das responsáveis pela criação de um novo site para a
instituição. "O Dr. Lúcio Alcântara deu
continuidade a ideia e hoje temos um site bonito e atualizado. As redes sociais
são espaços de divulgação da Academia e resgate de sua história", pontua a profissional ao ressaltar o trabalho em
equipe. Com "empolgação" por "Imortais
Cearenses", Grecianny destaca a relevância histórica da entidade,
considerada a "academia-mãe da
literatura cearense". A escritora destaca a reinvenção do órgão durante a pandemia por meio de atividades
virtuais e um calendário que se mantém atuante por ciclos de atividades como
conferências, palestras e solenidades de homenagens. "Por ela passaram grandes nomes relevantes para a
literatura e cultura no Ceará, no Brasil e no mundo. Esse projeto busca levar ao
conhecimento do público de um modo geral sobre os atuais acadêmicos da ACL,
para que contem um pouco de suas trajetórias e, assim, possam manter viva a
história da literatura cearense".
Lançamento
"Imortais Cearenses"
Quando: 11 de outubro
Onde: Academia Cearense de Letras (rua do Rosário, 01 -
Centro)
(*)
Jornalista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 31/08/22. Vida & Arte, p.1.
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