Por Olívia Bessa (*)
A vacinação é considerada um dos maiores avanços da humanidade em termos de
saúde pública nas últimas décadas, com importantes marcos na erradicação e
controle de doenças com potencial epidêmico e de gravidade.
No Brasil, o
Programa Nacional de Imunização (PNI) sempre foi uma referência internacional
de política pública de saúde, com grandes avanços e
conquistas nessas quase 5 décadas, desde a sua criação.
As vacinas,
junto com outras ações, foram responsáveis pela eliminação da varíola,
interrupção da transmissão da poliomielite, controle do sarampo, diminuição na
incidência de pneumonia e meningite, com impacto na redução nas taxas de mortalidade infantil.
No entanto,
após quase atingir a cobertura universal entre 2010 e 2015, houve um grande
retrocesso e os índices de vacinação infantil despencaram nos últimos anos.
Dados do PNI mostram que a cobertura
vacinal no Brasil
alcançou em 2021 somente 70% da população-alvo. O Ceará acompanhou essa
tendência nacional. Embora no período de 2017 a 2018, a cobertura vacinal das
crianças menores de 1 ano de idade tenha alcançado as metas, superando mais de
95% da população vacinada, verifica-se uma queda na variação percentual,
sobretudo no período da pandemia. As baixas coberturas vacinais colocam em
risco a saúde individual da criança, além de um risco coletivo potencial, com retorno de doenças que já haviam sido controladas.
Esse retrocesso
histórico nas taxas de imunização acontece em um cenário onde o Brasil
volta ao Mapa da Fome, com muitas famílias vivendo em contexto de insegurança
alimentar, deixando crianças com sistema imunológico fragilizado e mais
suscetíveis a doenças. No ano que o ECA completa 32 anos, um caso suspeito de
poliomielite em criança é notificado. O Ministério da Saúde descartou, mas convivemos com a
possibilidade de, após 33 anos, ter o vírus circulando no Brasil.
Reverter a
queda na cobertura vacinal na população infantil exigirá conhecer a real
dimensão do problema e suas causas. Os mitos em torno dos riscos das vacinas têm circulado e isso é preocupante, sobretudo quando se trata de
prevenção de doenças potencialmente graves e letais.
Importante
mobilizar esforços para intensificar a vacinação de rotina e elaborar
estratégias de vacinação, além de implementar medidas efetivas de comunicação
que combatam a desinformação.
(*) Médica pediatra. Diretora de Educação e
Extensão em Saúde da Escola de Saúde
Pública do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/10/2022. Opinião. p.17.
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