segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

A QUEM INTERESSA A POLARIZAÇÃO?

Por Henrique Soárez (*)

Se houver paralelos entre a democracia norte-americana e a brasileira, em 2026 ainda estaremos discutindo se houve ou não fraude nas urnas. O sonho de termos dois candidatos de centro disputando a presidência (Alckmin e Tarcísio?) será mais uma vez torpedeado pela necessidade de escolher o menos ruim.

O eleitor não é naturalmente polarizado. A pesquisa do Instituto Locomotiva para o projeto Despolarize mostra que, longe das eleições (julho/2021), somente 41% dos brasileiros se identifica espontaneamente com a direita ou a esquerda: os outros 59% se dizem de centro ou "nenhum/não sabe". A animosidade em relação aos que pensam diferente é feita de caso pensado por sujeitos que preferem influenciar as massas pouco atentas usando caricaturas e fantasmas imaginados.

Tomemos o caso das teorias conspiratórias. Um exemplo que circulou em 15/novembro mencionava a compra dos nossos juízes e líderes partidários por US$ 1,8 trilhão. Ninguém que pense duas vezes nessa alegação irá dar-lhe crédito (o valor é superior ao PIB nacional). Mas na dinâmica das redes sociais, a insistência no tema busca adestrar os seguidores sobre a conduta dos adversários. Quando um 'true believer', como descrito por Eric Hoffer, é questionado sobre a razoabilidade das alegações a resposta comum é: "esse caso pode até ser falso, mas todo mundo sabe que é assim que eles agem". A infinidade das lorotas torna crível a caricatura.

O diálogo deveria seguir o rumo oposto. Como um competente advogado criminalista, o democrata deveria partir do respeito aos melhores argumentos do seu oponente. Tirar proveito aquilo que há em comum e atrair os eleitores mais sofisticados do campo adversário. Cabe ao líder zelar pelo discurso verdadeiro: não somente abster-se de mentir, mas também apontar deslizes de honestidade intelectual até entre seus apoiadores. Modelar antes das urnas o comportamento honrado pelo qual poderá ser cobrado durante o mandato. As democracias não são tribunais onde adversários se enfrentam; são espaços de troca onde as melhores ideias prosperam pelo bem da população.

(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da Uni7.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/12/22. Opinião, p.16.

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